31.8.04

VISTA GROSSA

“E enorme, nesta massa irregular
De prédios sepulcrais, com dimensões de montes
A Dor humana busca os amplos horizontes
E tem marés de fel como um sinistro mar”

Cesário Verde


O maior espectáculo de folclore a seguir das cassetes roubadas chega por mar e dá pelo nome de Barco do Aborto. Liricamente apelidado “Women on Waves”, promete combater o autoritarismo do Governo português e, claro, libertar as oprimidas mulheres portuguesas, lutando para fazer cessar as violações aos seus direitos mais básicos.

No site da “Women on waves”, encontram-se pérolas como esta: “Abortion on our ship: You can make an appointment with us by telephone, email or by visiting the ship. We will inform you about when and where to board the ship.” E adiante: “The pregnancy termination will involve a trip with a ship. You will get a seasickness tablet before departure. If you use any prescribed medicines, pills or inhalers, use them normally and take them with you. Other things you should take along:
- Passport- Information about your Rhesus factor, if known- A change of underwear and sanitary towels.Wear comfortable clothes and shoes, no high heels. During the sea travel you will wait in the mess room of the ship, where you can talk with staff and other clients and have something to drink and eat. After about two hours we will arrive in international waters.”
Promete, assim, a casquinha de noz holandesa proporcionar um misto de Serviço de Urgência, James Bond e excursão turística da Freguesia de Lamelas. O turismo abortivo, já praticado com êxito em várias localidades da terra de nuestros hermanos, avança agora num modelo mais ousado – talvez para atrair o público jovem? – ao estilo Melga/Mike “deixa-me experimentar, deixa-me experimentar!”.

Não se esqueça a intrépida futura visitante do Borndiep de ler mesmo a informação so willingly provided pelas suas salvadoras holandesas nem de seguir seus sábios conselhos, em especial, lembre-se de “check-up to confirm that the abortion is complete” , como diligentemente explica o mesmo site.

Para o ano, organizações de defesa das mulheres (?), Pedro Nuno Santos e a sua gente de sangue na guelra preparam mais iniciativas lindas: se Manuel Alegre ganhar a corrida no PS, jovem Pedro confirma a vinda de uma associação de separatistas-abortistas tchetchenas, que abrilhantarão as IVG a realizar no Rato com serões literários; se a sorte bater à porta de João Soares, o activo Pedro Nuno fecha acordo com uma companhia aérea de tarifas baixas, para grandes razias aos monumentos nacionais e sorteio de um magnífico diamante; se a vez calhar a José Sócrates, a pândega também está assegurada: parapente, salto invertido, rappel e paint ball, entre muitas, muitas outras.

O aborto passou a ser assunto do mar e a oposição regozija-se com a oportunidade de daí extrair dividendos políticos. É extraordinário como o debate em torno de uma questão que merece uma abordagem serena e séria se metamorfoseia numa espécie de revivalismo Maio de 68, histeria latino americana e turismo a preços light.

Se a questão não fosse de facto séria, a angariação de cobaias em lanchas para visitar o defensor dos direitos das mulheres e a quase romântica tentativa de chegar ao Barco do Aborto, pavilhão da liberdade, pelos pequenotes socialistas como se fossem refugiados, mereciam figurar num filme de Leslie Nielsen.

Avalon

MY LITTLE RICH HOUSE

“Indeed, it seems to me that brutality in war is more the norm than the exception, and more to do with circumstances than with character.(…) As we still see in many parts of the world, the object of hatred could also be people belonging to another tribe or of a different race. The task of propaganda is to shape this difference so that it creates a feeling of threat from the other side and strengthens the urge for homogenisation.”

Slavenka Drakulic, “They Would Never Hurt a Fly”


Michael Moore empenhou-se a fundo para retratar a “nação idiota”, como ele próprio reconhece, e personalizá-la em George W. Bush. O Presidente Americano, na verdade, nem precisava de Michael Moore se desse ao trabalho de o revelar, pois não há memória de uma única declaração de Bush que não prime pela nulidade. Ao melhor estilo “cada tiro, cada melro, cada cavadela, cada minhoca”, há muito que Bush deixou de ser levado a sério (chegou a sê-lo?), ao menos do lado de cá do Atlântico.

O filme de Moore não é, todavia, desprovido de novidade. É, até, obrigatório. Consegue ter ritmo, graça e conquistar o seu lugar no centro dos debates sobre a política americana. Mas não é sobre política americana, mas sobre Bush que Moore quer falar. Desdobra-se em tentativas de dar voz ao cidadão comum, para demonstrar o descontentamento americano: a mãe que perde o filho na guerra, o velhote acossado pelo FBI numa versão SS, o soldado máquina de guerra, contrastando com o soldado ingénuo, os amputados...aparecem depois uns quantos investigadores, técnicos, especialistas, raramente identificados e que dão a sua colher de chá na sustentação da tese conspirativa que perpassa o filme. A coroar, a crítica à classe política, e aí sim, Fahrenheit roça a genialidade, como quando Moore convida os congressistas a dar o exemplo, enviando os seus filhos para o Iraque.

Mas Moore não consegue escapar à tentação de se auto-proclamar o novo herói da América. Com um travozinho Bloco de Esquerda, lá aparece Moore numa carrinha branca a ler o Patriot Act, com megafone (talvez umas farturas?). Por vezes, fraqueja mesmo e quase pisa o terreno do patético, ao tentar vender a cena do recrutamento de soldados no parque de estacionamento de um centro comercial.

Farhenheit 9/11 é por isso, uma mistura de Forrest Gump, Wag the Dog e o filme que Kenneth Starr gostaria de ter feito sobre Clinton. É isto que aos olhos do americanos deverá passar despercebido: o problema não é tanto Bush, mas uma cultura de quase divinização do ideal americano. Moore podia ter ido mais além e explorado a figura de Saddam, que é referido en passant quase como um pacífico líder do Médio Oriente. Podia ter ido mais além e não insistir no erro de ignorar a existência da Europa, como faz ao retratar a coligação. É que o relativismo dos Estados Unidos não se deve a Bush e à Arábia Saudita. Pelo contrário, e esse é o verdadeiro calcanhar de Aquiles do filme, deve-se, paradoxalmente, ao enraizado chauvinismo americano.
Aí sim, Moore derrapa e dá um tiro no pé. Se Bush instrumentaliza as instituições de forma tão vil como é insinuado (afirmado?), como é que Moore conseguiu levar a cabo tamanha empresa?
Na América, responderão que assim foi, porque Moore é um herói. Na Europa, percebe-se que o filme poderia ter sido feito, com boa-vontade, sobre qualquer Presidente Americano.

Confirma-se, pois, que também há mandarins na América.

Avalon

BLOCO DE ESQUERDA...

O líder do bloco de esquerda e historiador Fernando Rosas conseguiu esta semana em declarações desconstruir o excelente resultado de Francis Obikwelu e transformá-lo num sintoma de pós-imperialismo de direita.

"Mais uma vez, os portugueses recorreram a mão-de-obra africana para espoliar os povos daquele grande continente explorado de metais preciosos. Lembro que esta foi a política ultramarina desde os tempos do Infante D. Henrique, atingindo o seu apogeu nas políticas absolutistas de D. João V, que literalmente saqueou todo o ouro e prata que encontrou no Brasil para proveito da coroa portuguesa. Agora, trinta anos após o 25 de Abril e o fim do colonialismo, Portugal volta a utilizar os africanos para trazer para a metrópole metais preciosos, num claro sintoma de neo-colonialismo e imperialismo expansionista do Sr. Bush e dos governos de direita neo-liberais que dominam actualmente a Europa".

Explicou um claramente satisfeito Fernando Rosas no bar da Universidade Nova de Lisboa, perante os sorrisos de aprovação de alunos com camisas do Che Guevara e dos Velvet Underground.

in "Público" de 27 de Agosto

Agosto, 31 - S. Raimundo Nonato

São Raimundo Nonato nasceu em Portel, Espanha, por volta de 1200. Foi chamado "nonato" (não nascido) porque foi extraído das entranhas de sua mãe já morta. Filho de família pobre, quando menino foi pastor de rebanhos. Deixou a terra natal e foi para Barcelona, ingressando na Ordem das Mercês, ou mercedários, fundada por São Pedro Nolasco. Aos 20 anos, vestiu o hábito dos mercedários, passando a dedicar toda sua vida pela libertação dos escravos da Espanha, sob o domínio muçulmano. Em 1226 chegou até à Argélia e entregou-se como escravo, a fim de consolar e animar pela fé os prisioneiros e trabalhar pela sua libertação.São Raimundo sofreu numerosas perseguições, correndo risco da própria vida, por amor ao Reino de Deus. Para impedir que ele continuasse denunciando as injustiças e proclamando o Evangelho da Libertação, os seus perseguidores furaram com ferro quente os seus lábios e trancaram-lhos com um cadeado. Finalmente foi resgatado, e com a saúde arruinada regressou a Espanha. O papa Gregório IX elevou-o a cardeal e a conselheiro particular. Em 1240, veio a falecer em Cardona, nas proximidades de Barcelona. Pela sua difícil vinda ao mundo, é invocado como o protector das parturientes e das parteiras.

26.8.04

KWAHERI MEANS FAREWELL

“How do you get to Neverland? Wendy asked.
Second star to the right, and straight on till morning “

JM Barrie (“Peter Pan”)


A map in the hands of a pilot is a testimony of a man's faith in other men; it is a symbol of confidence and trust. It is not like a printed page that bears mere words, ambiguous and artful, and whose most believing reader--even whose author perhaps--must allow in his mind a recess for doubt.

A map says to you, 'Read me carefully, follow me closely, doubt me not. It says, 'I am the earth in the palm of your hand. Without me, you are alone and lost.'

And indeed you are. Were all the maps in this world destroyed and vanished under the direction of some malevolent hand, each man would be blind again, each city be made a stranger to the next, each landmark become a meaningless signpost pointing to nothing.

Yet, looking at it, feeling it, running a finger along its lines, it is a cold thing, a map, humourless and dull, born of calipers and a draughtsman's board. That coastline here, that ragged scrawl of scarlet ink. shows neither sand nor sea nor rock; it speaks or no mariner, blundering full sail in wakeless seas, to bequeath, on sheepskin or a slab of wood, a priceless scribble to posterity. This brown blot that marks a mountain has, for the casual eye, no other significance, though twenty men, or ten, or only one, may have squandered life to climb it. Here is a valley, there a swamp, and there a desert; and here is a river that some curious and courageous soul, like a pencil in the hand of God, first traced with bleeding feet.

Here is your map. Unfold it, follow it, then throw it away, if you will. It is only paper. It is only paper and ink, but if you think a little, if you pause a moment, you will see that these two things have seldom joined to make a document so modest and yet so full with histories of hope or sagas of conquest.

No map I have flown by has ever been lost or thrown away; I have a trunk containing continents....”

Beryl Markham (“West with night”)


Bruno Ventana

25.8.04

“NAU GABADA DE NOVA, E FORTE, E BEM MARINHADA"

Frei luís de Sousa (História de S. Domingos)

"……três observações finais. Em primeiro lugar, João Franco pensou a sua actuação referindo-se ao passado e sobretudo à tradição reformista representada pela esquerda liberal. Se alguma coisa o caso de Franco revela, é o peso da tradição liberal sobre a elite política da monarquia.
O liberalismo não era simplesmente um instrumento ideológico, mas uma cultura que envolvia a elite e limitava o que ela podia pensar e executar. Franco conservou-se fiel ao velho projecto liberal de integrar os indivíduos capacitados num estado transparente e aberto, sob o império da lei. O seu ideal político manteve-se o da monarquia liberal, o equivalente dinástico da república conservadora representada pela Terceira República francesa : um regime que preservasse a ordem ao mesmo tempo que, gradual e consensualmente, fosse facilitando o progresso.

Em segundo lugar, as origens do espírito reformista que animava João Franco não estavam na rejeição do liberalismo, mas sobretudo na tentativa de consumar as soluções para que apontava o debate liberal. Politicamente formado na intersecção do radicalismo universitário e da esquerda constitucional com o oportunismo fontista, Franco era, social e culturalmente, um membro da elite liberal, preso às ideias e aos costumes dessa elite. A crise de1890 exaltou a sua ânsia de reformar, tal como crises na´logas em 1868 ou em 1876 haviam entusiasmado outros reformadores. O liberalismo partia de determinados princípios, mas constituiu-se, enquanto regime político, como um debate entre várias alternativas. O reformismo era um efeito desse debate. Era através das reformas, da mudança legal, jurídica, que os liberais pensavam a sua relação com o passado e com o futuro. Franco e os outros chefes políticos do regime tiveram sempre um largo menu de opções, dentro dos termos do debate liberal, com as quais podiam provar a sua vontade de melhorar o País. A este respeito não houve de facto uma ruptura entre o Franco de 1895 e o Fontes de 1885.

Finalmente, a última observação diz respeito ao autoritarismo de Franco. Num País em que 70% da população adulta era analfabeta e perante uma classe média pequena e faccionalizada, a única via para a reforma estava no Governo apoiado pelo rei. Tinha sido sempre esta a via do liberalismo, desde 1834. O reformismo teria sempre de ser “autoritário” neste sentido: o de reforçar o poder do executivo, por via da monarquia, contra a elite política.
Mas este “autoritarismo” foi um autoritarismo liberal que nunca deveria ter sido confundido com o autoritarismo comunista ou fascista do pós-guerra.

Em suma, o franquismo, pelas suas origens, não tem absolutamente nada a ver com os movimentos antiliberais que se desenvolveram na Europa da década de 20."

Rui Ramos



Bruno v

SPLEEN

“…E ela morava adiante, no começo da Bela Vista, naquela casa onde a grande mimosa se debruçava do muro, dando à rua sombra e perfume”
E de Queirós

Le verbe aimer est l´un des plus difficiles
à conjuguer;
Son passé n´est pas simple,
son présent n´est qu´indicatif

et son futur
est toujours conditionnel »

J. Cocteau


Bruno V

Agosto, 25 - São José Calasâncio

Nasceu em Peralta de la Sal, Aragão, Espanha, no ano de 1557. Depois de receber uma esmerada educação, foi ordenado sacerdote aos 28 anos. Trabalhou por algum tempo na sua terra natal, indo depois para Roma. Ali entregou-se de corpo e alma à educação das crianças pobres. Era por volta do ano de 1597 quando fundou a primeira escola, dando origem à Congregação dos Clérigos Pobres da Mãe de Deus, em 1621. A sua fundação logo se difundiu por todo o mundo, alcançando a Itália, a Alemanha, a Boémia, a Polónia.São José Calasâncio muito sofreu por causa dos ciúmes dos próprios co-irmãos: acusado de incapacidade, foi destituído do governo da própria Congregação e em seu lugar foi colocado um "visitador", uma espécie de interventor da Santa Sé. Foram momentos de grande provação, em que viu a sua obra quase completamente destruída. São José Calasâncio, entretanto, não desanimou. Manteve-se sereno e tranquilo e confiante em Deus. E a sua obra novamente surgiu das cinzas. Entretanto, somente oito anos após a sua morte, o papa Alexandre VI, em 1656, aprovava definitivamente o Instituto. São José Calasâncio morreu aos noventa anos de idade, em 1648.

14.8.04

ENCANAÇÃO E O DIREITO DIVINO

“As coisas são o que são e as suas consequências serão o que serão”
Bispo Butler

“Ilustríssimo e Exmo. Senhor Pinto Coelho, digno director da Companhia das Águas de Lisboa e digno membro do Partido Legitimista.

Dois factores igualmente importantes para mim me levam a dirigir a V. Ex.ª estas humildes regras: o primeiro é a tomada de Cuenca e as últimas vitórias das forças carlistas sobre as
tropas republicanas, em Espanha; o segundo é a falta de água na minha cozinha e no meu quarto de banho.

Abundaram os carlistas e escassearam as águas, eis uma coincidência histórica que deve comover duplamente uma alma sobre a qual pesa, como na de V. Exª, a responsabilidade da canalização e a do direito divino.

Se eu tiver a fortuna de exacerbar até às lágrimas a justa comoção de VExª, que eu
interponha o meu contador, EXmo. Senhor, que eu o interponha nas relações da sensibilidade de V. Exª com o mundo externo! E que essas lágrimas benditas, de industrial e de político, caiam na minha banheira!

E, pago este tributo aos nossos afectos,
falemos um pouco, se V. Ex.ª o permitir, dos nossos contratos.

Em virtude de um escrito, devidamente firmado por V. Exª e por mim, temos nós – um para com o outro - certo número de direitos e encargos.

Eu obriguei-me para com V. Ex.ª a pagar a despesa de uma encanação, o aluguer de um contador e o preço da água que consumisse.

V. Exª, pela sua parte, obrigou-se para comigo a
fornecer-me a água do meu consumo. V.Exª fornecia, eu pagava. Faltamos evidentemente à fé deste contrato: eu, se não pagar, V Exª, se não fornecer.

Se eu não pagar, V.Exª faz isto: corta me a canalização. Quando V. Exª não fornecer, o que hei-de eu fazer, Exmº Senhor?

É evidente que, para que o nosso contrato não seja inteiramente leonino, eu preciso no caso análogo àquele em que V.Exª me cortaria a mim a canalização, de cortar alguma coisa a V.Exª …

Oh! E hei-de cortar-lha!..

Eu não peço indemnização pela perda que estou sofrendo, eu não peço contas, eu não peço
explicações, eu chego a nem sequer pedir água!

Não quero pôr a Companhia em dificuldades, não quero causar-lhe desgostos, nem prejuízos!
Quero apenas, esta pequena desafronta, bem simples e bem razoável, perante o direito e a justiça distributiva: quero cortar uma coisa a V. Exª!

Rogo-lhe, Exmo Senhor, a especial fineza de me dizer, imediatamente, peremptoriamente, sem evasivas, nem tergiversações, qual é a coisa que, no mais santo uso do meu pleno direito, eu possa cortar a V. Exª.

Tenho a honra de ser.
De V. Exª
Com muita consideração e com umas tesouras.
(a)-Eça de Queirós”


bruno v

VIVA O CICLISMO

Sem o suporte mediático de outras modalidades, discretamente, Portugal já ganhou uma medalha de prata em ciclismo nas Olimpíadas de Atenas 2004.

Logo no primeiro dia oficial de competição nos jogos olímpicos de Atenas, o ciclista português Sérgio Paulinho ficou em segundo lugar na prova de ciclismo de estrada em que apenas nos últimos metros foi ultrapassado pelo ciclista italiano Paolo Bettini.

Com humildade e determinação Sérgio Paulinho já fez mais pela imagem de Portugal que as estrelas do futebol que se iniciaram com um péssimo resultado e uma pior exibição frente à modesta equipa do Iraque.

Seria útil que o exemplo de Sérgio Paulinho fosse seguido pela constelação do futebol, a começar por Cristiano Ronaldo que teve uma atitude de violenta agressão absolutamente gratuita para com um adversário…

Parabéns ao ciclismo português. Parabéns ao Sérgio Paulinho.

Agosto, 14 - São Maximiliano Maria Kolbe

Nasceu na Polónia, em 1894. Morreu num campo de concentração nazista, oferecendo a sua vida em favor de um pai de família condenado à morte. Era franciscano conventual. Ensinou teologia em Cracóvia. Devotadíssimo de Nossa Senhora, fundou, na Polónia, a Milícia da Imaculada. E para maior divulgação da devoção à Imaculada, criou a Revista Azul, destinada aos operários, camponeses, alcançando, em 1938, cerca de 1 milhão de exemplares. A "Cidade da Imaculada" abrigava 672 religiosos e um vasto parque gráfico. Foi percursor das comunicações. Perto de Nagasaki fundou uma segunda Cidade da Imaculada com o seu boletim mariano e missionário, impresso em japonês.Regressado à Polónia, foi preso pelos nazistas devido à influência que a revista e publicações marianas exerciam. Foi dia 7 de Fevereiro de 1941, em Varsóvia. Dali foi levado para Auschwitz e condenado a trabalhos forçados. Exerceu um verdadeiro apostolado no meio dos companheiros de infortúnio, encorajando-os a resistir com firmeza de ânimo. Foi ali que se ofereceu para morrer no lugar de Francisco Gajowniczek. Único sobrevivente do grupo, no subterrâneo da morte, Maximiliano Kolbe resistiu por quinze dias à fome, à sede, ao desespero na escuridão do cárcere. Confortava os companheiros, os quais, um após outro, aos poucos sucumbiam. Morreu com uma injecção de fenol que lhe administraram. Era o prisioneiro com o nº 16.670. Foi no dia 14 de Agosto de 1941. Beatificado por Paulo VI em 1971, foi canonizado por João Paulo II, em 1982.Toda a razão de ser, de sofrer e de morrer do Padre Kolbe esteve em perscrutar - para dela viver e fazer que se vivesse - a resposta de Maria a Bernardette: "Sou a Imaculada Conceição".

13.8.04

A NADO E EM BIQUINI

“La tempête avait croisé cet homme taciturne
et elle n´avait réussi qu´ à lui arracher quelques mots »
J. Conrad

Foi no mês alumbrado
dos bruxedos

O ardente encontro.

Enluarada
me laçaste com boca bárbara
e faminta

Ó trémula beleza sem apoio
fiz-te pássaro e mato-te no voo

Não me culpes, amor

foi bruxaria


Bruno V.


CASTRUCCIO CASTRACANI

“Lo que pensamos no es nunca la realidad: porque lo que pensamos es lógico y la realidad es ilógica.”
J. Ortega y Gasset

“Castruccio seduziu Machiavelli, levando-o a contar a sua vida, porque tinha uma natureza de verdadeiro príncipe, que passeava em pleno século catorze l´état avant la lettre de um Cesare Borgia. Castruccio era bem um herói ao jeito de Machiavelli, um intrépido que não recua diante de nenhuma audácia. O género de heróis que outros vão buscar nas canções de gesta e nos romances de cavalaria. Machiavelli encontrava-os na História. A realidade proporcionava-lhe modelos que outros pediam à ficção. E eles não faltavam na Itália medieval, estes prodigiosos conquistadores, soldados de fortuna ou políticos do acaso, estes aventureiros de grande estilo que acabavam no trono ou no cadafalso – e o cadafalso era por vezes o corolário de um trono.” M. Brion

Bruno V.

FEITIÇO À DISTÂNCIA

“A história íntima do passado, sobretudo da corte, ganha muito em ser escrita por uma plume de gentilhomme.”
E. de Queirós

Eça de Queirós preparava, em 1888, a partir de Paris, o primeiro número da sua Revista de Portugal e, querendo a colaboração do Conde de Sabugosa, escreve-lhe em 31 de Outubro:

“ Quer você, meu caro Conde de Sabugosa, ser desta panelinha de alta literatura? Os deveres que se lhe impõe são ligeiros – um fino e burilado artigo de vez em quando, alguma graciosa estrofe aqui e além, muita amizade pela revista e alguma pelo seu director. Por seu turno, a revista, essa, imprime o artigo e a estrofe no melhor tipo que a Inglaterra funde, sobre o melhor papel que a Alemanha fabrica; e respeitosamente resvala na mão do autor um punhado de ouro! Voilá! É como a mesa do Tavares ou Bragança – com a diferença do champagne extra-dry não ser servido em copos, mas em frases!”

Bruno v.

ENGENHARIA PORTUGUESA DE PARABÉNS

António Segadães Tavares ganhou o Prémio Internacional de Engenharia de Estruturas 2004 com a obra de ampliação do aeroporto de Sta. Catarina na Madeira.

É a primeira vez que um português recebe este prémio – um verdadeiro Nobel da Engenharia que já brindou os engenheiros autores de obras como o Museu Guggenheim de Bilbau ou a Biblioteca de Alexandria.

Este engenheiro português é ainda responsável, entre outras, de obras como o Centro Cultural de Belém ou da “pala” do Pavilhão de Portugal na Expo.

Fica uma certa amargura: o Engenheiro Edgar Cardoso – génio da engenharia portuguesa – e em particular de estruturas especiais, partiu sem ter sido distinguido com este prémio. Serve a admiração conquistada.

Agosto, 13 - São Benildo

São Benildo era de Alverne. Nasceu no dia 13 de agosto de 1862. Aos 16 anos, entrou na Congregação dos Irmãos das Escolas Cristãs. Por muitos anos foi professor e superior de sua comunidade. Respeitoso, magnânimo, sabia fazer-se respeitar por todos. Era sobretudo um homem de fé.Procurava viver intensamente o Evangelho no quotidiano de sua vida. E referindo-se à frase da oração do pai-nosso: "o pão de cada dia nos dai hoje", explicava:Peço para 'hoje', o pão de cada dia e a graça de cada dia. O dia de amanhã já terá as suas preocupações (Mateus, 6:34). O nosso pai celeste, que é bom hoje, sê-lo-á também amanhã. Há porventura indícios de que Ele se torne mau na noite próxima e pare em seguida de me ouvir? (Apud José Leite, S.J., op. cit., Vol. II, p. 458). Para ele, a vida eterna já começava aqui nesta terra, e foi neste espírito que ele entregou sua alma a Deus.

11.8.04

JOÃO, PÉ DE RENACIONALIZAÇÃO OU A “RENACIONALIZAÇÃO COMO INSTRUMENTO INTERESSANTE” (“PRÓ JOÃO, PRÓ MENINO E PRÁ MENINA”)

“No comment is a splendid expression. I am using it again and again.”
Winston Churchill

Avalon

IMPARÁVEL

“Nothing is more common-place as to wish to be remarkable.”
William Shakespeare

Sabíamos já que o PS, partido heterogéneo, é composto (pelo menos) por uma ala direita, uma esquerda e uma ao centro. Com este dogma como estrela polar, vamos assistindo à personalização das alas. Parece que António Costa é de uma ala direita, Manuel Alegre de esquerda e José Sócrates do centro. Sendo fiel à sua subtil incoerência , o PS conseguiu produzir, ainda, um candidato à liderança que não tem “balanças” para fazer “pesagens”, quando se trata de exercícios ideológicos. Uma delícia.

Mas atentemos no que diz João: “O Manuel Alegre ficou na Assembleia da República.” A afirmação, no contexto em que foi proferida, pretendia ilustrar como, ao contrário dele próprio, Alegre fez pouco enquanto “teve poder”. O que é extraordinário para quem tem pretensões a liderar o maior partido da oposição (uf!) e, certamente, vir a ser Primeiro-Ministro. (risos) Ah, João, João, esse respeito pelas instituições…

Diz ainda de José Sócrates, que “teve experiência de poder como secretário de Estado, depois lá conseguiu afastar a Elisa Ferreira e chegou a ministro, mas a sua experiência é muito limitada.” Ora, também aqui a cortesia prima.

Ponto um, porque João deveria, isso sim, elogiar a suposta golpada de Sócrates ao afastar Elisa Ferreira, e acalentar, assim, o sonho de vir a “deceive the deceiver”, o que é sempre alegria redobrada.

Ponto dois, porque João não conseguiu afastar Elisa Ferreira. End of the story.

Avalon

TYRANNOSAURUS REX AUMENTAVA DE PESO 2,1 KG POR DIA

O Tyrannosaurus Rex, um dos maiores carnívoros de sempre, aumentava de peso 2,1 quilogramas por dia até atingir mais de cinco toneladas na idade adulta.

in "Nature"

Agosto, 11 - Santa Clara (virgem)

Nasceu em Assis, em 1193. Conterrânea de São Francisco de Assis, Clara foi sua discípula e fiel intérprete de seu ideal ascético. De família nobre, dotada de extraordinária beleza, e possuidora de muitas riquezas, Clara, aos 18 anos, fugiu de casa para se consagrar a Deus, mediante uma vida de absoluta pobreza, a exemplo de Francisco de Assis. Juntamente com Inês, sua irmã mais jovem, e outras companheiras, Clara instalou-se no oratório de São Damião. Era o início das Clarissas. Procuravam em tudo viver o ideal franciscano da pobreza. Actualmente somam cerca de umas 19 mil religiosas, espalhadas por todo o mundo.Contam os fioretti que um dia, Francisco mandou dizer a Clara que rezasse a Deus para que ele pudesse saber o que mais agradava a Deus: dedicar-se à pregação ou à oração. Depois de muita oração, o mensageiro levou a resposta a Francisco: Tanto a frei Silvestre como a irmã Clara e sua irmã, Cristo respondeu e revelou que sua vontade é que vás pelo mundo a pregar, porque Ele não te escolheu para ti somente, mas ainda para a salvação dos outros!Com frei Masseo, São Francisco se pôs a caminhar conforme o Espírito o movia ... Pregou a muitos com muita unção ... As aves do céu faziam silêncio para que o Santo pudesse falar ...São Damião foi milagre que irradiou pureza, como o sol irradia os seus raios. As mulheres queriam ser puras como Clara e os homens aprendiam a respeitar a pureza das mulheres. É apresentada de custódia do S.Smº Sacramento na mão a deter os mouros às portas de Assis. Por lhe ter sido atribuído ver de longe o sepulcro de S. Francisco, foi ela declarada padroeira da televisão.

10.8.04

CANAL HISTÓRIA

Ministério da Educação aposta na informação (histórica) na Internet

Consultando o site do Ministério da Educação, deparamo-nos com uma total desactualização dos conteúdos, sem qualquer referência aos responsáveis políticos deste ministério. Alguns exemplos:

Logo na entrada, grande destaque para a “mais recente” medida do governo na área da educação – o programa Eu não Desisto. que previne o abandono escolar com o texto:

"Os ministros da Educação e da Segurança Social e do Trabalho apresentaram, no dia 7 de Abril, o Plano Nacional de Prevenção do Abandono Escolar, um esforço colectivo para evitar que os jovens saiam precocemente do sistema de ensino. "

Depois uma também “actualizada” informação:

Proposta de Lei de Bases da Educação

"O Primeiro-Ministro, Dr. Durão Barroso, apresentou, na sua residência oficial, a proposta de Lei de Bases da Educação que pretende substituir a actual Lei de Bases do Sistema Educativo em vigor há 17 anos. Uma das medidas integradas no documento é o aumento da escolaridade obrigatória de nove para 12 anos. "

Só uma nota: esta proposta, apresentada no final de Maio, foi já vetada pelo senhor Presidente da República…

Nos Princípios e Propostas que este ministério apresenta, mais uma referência de grande actualidade:

"Baseando-se num conjunto de princípios fundamentais, o XV Governo Constitucional levará à prática, em matéria de educação e formação, as seguintes medidas…"

todos os textos com um actual:

"*Extraído do Programa do XV Governo Constitucional."

Já agora, este é o XVI Governo Constitucional!

Na área dedicada à Imprensa, reforça-se a “actualidade”:

O mais recente comunicado data de… Maio!:

"24-05-2004
Maio - Mês de África - Vista de S.Exa a Secretária de Estado à Escola Básica 2,3 de Vialonga"

E a mais nova notícia… Não, não é erro! Outubro de… 2002!

"27-10-2002
Pais que trabalham como voluntários na escola
Público, 27-10-2002"

Parabéns! O Canal História não faria melhor.

Agosto, 10 - São Lourenço (mártir)

São Lourenço sofreu o martírio durante a perseguição de Valeriano, em 258. Era o primeiro dos sete diáconos da Igreja romana. A sua função era muito importante o que fazia com que, depois do papa, fosse o primeiro responsável pelas coisas da Igreja. Como diácono, São Lourenço tinha o encargo de assistir o papa nas celebrações; administrava os bens da Igreja, dirigia a construção dos cemitérios, olhava pelos necessitados, pelos órfãos e viúvas. Foi executado quatro dias depois da morte de Sisto II e de seus companheiros. O seu culto remonta ao século IV. Preso, foi intimado a comparecer diante do prefeito de Cornelius Saecularis, a fim de prestar contas dos bens e das riquezas que a Igreja possuía.Pediu, então, um prazo para fazê-lo, dizendo que tudo entregaria. Confessou que a Igreja era muito rica e que a sua riqueza ultrapassava a do imperador. Foram-lhe concedidos três dias. São Lourenço reuniu os cegos, os coxos, os aleijados, toda sorte de enfermos, crianças e velhos. Anotou-lhes os nomes ... Indignado, o governador concedeu-o a um suplício especialmente cruel: Amarrado sobre uma grelha, foi assado vivo e lentamente. Em meio dos tormentos mais atrozes, ele conservou o seu "bom humor cristão". Dizia ao carrasco: Vira-me, que deste lado já está bem assado ... Agora está bom, está bem assado. Podes comer!...Roma cristã venera o hispano Lourenço com a mesmo veneração e respeito com que honra os primeiros apóstolos. Depois de São Pedro e São Paulo, a festa de São Lourenço foi a maior da antiga liturgia romana. O que foi Santo Estêvão em Jerusalém, isso mesmo foi São Lourenço em Roma.

9.8.04

DEBONAIR

“Uns olhos irlandeses, enrugados, com um brilho íntimo, como se ele e a pessoa para quem olha soubessem alguma coisa que mais ninguém sabe”

Norman Mailer on JFK (“Harlot`s Gohst”)


John F. Kennedy's favorite book was Melbourne by David Cecil, the biography of William Lamb, Viscount Melbourne, who was prime minister of Great Britain for seven years, from 1834 to 1841, serving as the political mentor of Queen Victoria. The book was published in 1939 and this is part of Cecil's description of the young William Lamb:

"To be a thinker one must believe in the value of disinterested thought. William's education had destroyed his belief in this, along with all other absolute beliefs, and in doing so removed the motive force necessary to set his creative energy working. The spark that should have kindled his fire was unlit, with the result that he never felt moved to make the effort needed to discipline his intellectual processes, to organize his sporadic reflections into a coherent system of thought. He had studied a great many subjects, but none thoroughly; his ideas were original, but they were fragmentary, scattered, unmatured. This lack of system meant further that he never overhauled his mind to set its con- tents in order in the light of a considered standard of value-so that the precious and the worthless jostled each other in its confused recesses; side by side with fresh and vivid thoughts lurked contradictions, commonplaces and relics of the conventional prejudices of his rank and station. Even his scepticism was not consistent; though he doubted the value of virtue, he never doubted the value of being a gentleman. Like so many aristocratic persons he was an amateur.

"His amateurishness was increased by his hedonism. For it led him to pursue his thought only in so far as the process was pleasant. He shirked intellectual drudgery. Besides, the life he lived was all too full of distracting delights. If he felt bored reading and cogitating, there was always a party for him to go to where he could be perfectly happy without having to make an effort. Such temptations were particularly hard to resist for a man brought up in the easygoing, disorderly atmosphere of Melbourne House, where no one was ever forced to be methodical or conscientious and where there was always something entertaining going on. If virtue was hard to acquire there, pleasure came all too easily."

David Cecil (“Melbourne”)


Bruno ventana

Agosto, 9 - João de Fermo ou de Alvérnia

Nasceu em Fermo, Itália, em 1529. É chamado de Alvernia porque viveu por muitos anos na solidão onde São Francisco recebeu os estigmas. Primeiramente esteve junto aos cónegos regulares, depois optou pelos frades franciscanos menores. Levou vida penitente e de absoluta austeridade. Embora não tivesse estudado quase nada, dominava a Sagrada Escritura e sabia tirar dela o que vinha ao seu propósito. Os fioretti de São Francisco referem-se a ele, dizendo:
"Aprouve à divina bondade, depois de três anos, retirar do dito frei João este raio e esta flama do divino amor, e privou-o de toda consolação espiritual: pelo que frei João ficou sem lume e sem amor de Deus, e todo desconsolado e aflito e dolorido". Os Fioretti continuam dizendo que Jesus, vendo sua aflição, apareceu passando por ele. Como um menino que corre atrás da mãe, ele começou a suplicar-lhe cada vez mais intensamente. Então Jesus, compadecido, mostrou-lhe o rosto. Conta-se que S. Francisco veio ter com ele para lhe moderar as mortificações e que, por vezes, eram os anjos que lhe faziam companhia. (Apud Padre Rohrbacher, op. cit., Vol. XIV, p. 275ss.) O seu culto foi aprovado pelo papa Leão XIII, em 1880.

5.8.04

O PARTIDO DE CRISTO RESSENTE-SE

“O leitor deve preparar-se para assistir às mais sinistras cenas.”

E. Sue (“Os mistérios de Paris”)


A corrida à liderança do partido de Cristo e Almeida Santos vai-se soltando e os candidatos, dando-se dentadas por medida, não param de surpreender os compatriotas em férias.
Em produção contínua, acusações de falcatruas eleitorais, de torpes compadrios de coordenadores e de pagamento de quotas à sorrelfa vão abrilhantando a época.

Em particular João Soares assentou praça num arraial de disparates que lhe augura por ora um belíssimo terceiro lugar. Parece, há tempo, acometido de vertigem política que o leva a querer, sem mais, ser líder. Não se vê bem porquê. E, todavia, está para ali virado e, assim, arranjou um entretém.

Compondo-se, sem compostura, num ar que pensa atendível, deita cavalo e mochila e arranja espaço em cada frase que debita para lembrar uma das qualidades que os portugueses “ fazem o favor de reconhecer” que são suas. Ele é a coragem, ele é a bravura, ele é a experiência, ele é a habilidade, ele é a tolerância, ele é ousadia, ele é o gosto pelas artes, ele é a modernidade, ele é a compaixão, ele é a inteligência, ele é o gosto pela cultura, ele é a curiosidade, ele é o amor pelos desprotegidos, ele é enfim um ror de predicados…

Temos asneira.

Manuel Alegre, homem de robalos e perdizes, é escritor fino, o que chega e sobra.
Além do que, tendo ajudado a construir o soarismo, fazer-se agora ao largo a todo o pano revela um progresso estimável.

A coisa, porém, acaba aqui.

Afogando o pensamento político em arroubadas ondas de emoção e poesia, correndo a reboque dos belos encadeamentos de palavras que a sua voz musical tão bem compõe, atira-se à uma para o século passado, onde se sente mais à vontade e, vai daí, vara de campino erguida nos lavados ares da manhã, fala da resistência à longa noite fascista, nas emissões da rádio Argel, em greves na Marinha Grande, nos operários da CUF, nos camponeses de Alpiarça, na luta da Sorefame, dando à tal da corrida à liderança uma atmosfera bem pitoresca a que, curiosamente, ajunta, no modo e na maneira, uma névoa aristocrata.

Voltará, em recaída, à “construção do soarismo” (versão utilitária)?

O Engº Sócrates já ganhou. É catita, de um moderno afadistado, e já falou com o Jorge Coelho.
Estudou pela rama os Mandelsons e os Campbells, mas apanhou-lhes a essência. Da posição e do sítio. E essas hoje é que contam. Para mais, é manifestamente superior ao antecedente Engº do PS, que era loquaz onde ele é simples, que era almôndega onde ele é bife grelhado, que era malha descomposta onde ele é cabedal, que era, finalmente, fujão onde ele é, finalmente, atiradiço.

É duvidoso que, tudo pesado, ele valha mais que o Lopes. De facto, no Portugal português, o lombo de porco, a vitela de Lafões e a cabidela de frango (petisco dilecto de D. João IV) foram há muito perdendo o sabor….

Mas, pouco valendo, tudo indica que andará pelo lugar certo à hora certa.

Que ricos tempos.


Bruno ventana

CANÇÃO DE VINHO E AUSÊNCIAS (9, 5 de10)

“Nasceu com o dom do riso e com a sensação de que o mundo era louco.
E esse foi todo o seu património”

Rafael Sabatini (“Scaramouche”)


Como se de repente ao coração do sol
As raízes de luz alguém as arrancasse….
Como se de repente as hélices do vento
Arranhassem o ar e o mar estivesse perto….
Como se de repente o Mundo entontecesse….

Foi tudo de repente e tudo ao mesmo tempo:
Escuridão, rumor, frescura e movimento.

Mas de entre espirais confusas quem sabia
Se era de novo amor, se era só melodia?

D. Mourão-Ferreira (Infinito Pessoal)


Bruno Ventana

VIAGENS NA MINHA TERRA

“Everybody has the right to pronounce foreign names as he chooses”

W. S. Churchill


“Ora donde veio este nome de Asseca? Algures, aqui perto, deve de haver sítio, lugar ou coisa que o valha, com o nome de Meca; e daí talvez o admirável rifão português, que ainda não foi bem examinado como devia ser, e que decerto encerra algum grande ditame de moral primitiva: “ andou por Seca (Asseca?) e Meca e olivais de Santarém”. Os tais olivais ficam logo adiante. É uma etimologia como qualquer outra.

A ponte da Asseca corta uma várzea imensa que há-de ser um vasto paul de Inverno: ainda agora está a dessangrar-se em água por toda a parte.”

Almeida Garret


Bruno ventana

4.8.04

É TUDO NOSSO

“Secção A, S.A. - A Gebalis, empresa de gestão de bairros sociais da Câmara de Lisboa, já contratou mais de 20 militantes da secção A do PSD-Lisboa.

Desde já se avisa que a história é pouco edificante. A Gebalis, empresa da Câmara de Lisboa responsável pela gestão dos bairros sociais da capital, engordou drasticamente nos últimos dois anos. Durante a gestão socialista tinha pouco mais de uma centena de trabalhadores. Hoje. passados dois anos da vitória de Pedro Santana Lopes em Lisboa, tem mais de 240 quadros. O Independente apurou que perto de 40 dos novos assalariados são militantes do PSD e que mais de 20 vêm directamente da secção A do PSD, a de Benfica, liderada por Sérgio Lipari Pinto, que acumula funções com as de director-geral da Gebalis e presidente da Junta de Freguesia de S. Domingos de Benfica.

A secção A tomou-se, de facto, uma verdadeira agência de emprego. Mas não é a única: a Gebalis contratou militantes nas secções B (Campo Grande) e F (Belém) e nas secções de Odivelas, Moscavide e Oeiras. A própria presidente da Gebalis, Eduarda Rosa, é militante da secção F e casada com o presidente da Junta de Freguesia de Belém e também presidente da secção F, Fernando Rosa.

Oeiras é a secção do PSD onde milita Helena Lopes da Costa, a vereadora de Lisboa com a tutela da Gebalis, cargo que acumula com a vice-presidência do PSD e da distrital do PSD/Lisboa.

Mas o grande protagonista desta história de aparelho é mesmo Sérgio Lipari Pinto. Fiel aliado de António Preto, actual líder da distrital de Lisboa, que também já foi presidente da secção A, Lipari acumula o cargo partidário com a presidência da Junta de Freguesia de Benfica e o cargo de director-geral da Gebalis.

Na empresa camarária, que gere todos os bairros sociais de Lisboa, é voz corrente que a presidente Eduarda Rosa pouco ou nada manda, em detrimento do seu multifacetado director-geral. Para tal cenário contribuiu a entrada dos mais de 2 O militantes da secção A na empresa, apesar de muitos deles terem sido contratados antes de Lipari ser o presidente da secção partidária.

Em declarações ao Independente, o gabinete da vereadora Helena Lopes da Costa limitou-se a considerar que o número de militantes do PSD a trabalhar na Gebalis "não é assim tão alto" e que na empresa da câmara "não se olha à filiação partidária mas sim à competência" .Lipari declinou fazer qualquer comentário.

Na lista de quadros da Gebalis há militantes laranja de todas as profissões: relações públicas, secretárias, engenheiros, assessores, técnicos de intervenção local, directores de serviços, motoristas, e até um contínuo. A "secção A, SA", também conhecida por Gebalis, é, de facto, uma grande família.”

30 de Julho n’ ”O Independente

3.8.04

PS SOB SUSPEITA

Ontem, João Soares explicou que Sérgio Sousa Pinto o avisou de que iria ser roubado nos votos para as eleições internas no PS. Sérgio Sousa Pinto que é afilhado político de Manuel Alegre, também candidato à liderança do PS, mas que apoia José Socrates. Manuel Alegre que já denunciou que alguém da candidatura de José Socrates anda a pagar quotas aos militantes para puderem votar.

Este é o partido alternativo ao PSD na condução dos destinos do país... O líder não sabemos... Mas podemos imaginar!

IDENTIDADE INCERTA OU INCÓGNITA CERTA

“Aqui num recontro com os nossos foi Junot gravemente ferido na cara. Il ne será plus beau garçon, disse o parlamentário francês que veio depois tratar, creio eu, da troca de prisioneiros ou coisa semelhante. Mas enganou-se o parlamentário: Junot ainda ficou muito guapo e gentil-homem depois disso.”

Almeida Garret


Assim por alto:
Os Portos ficam com a tutela partilhada pelos Ministérios das Obras Públicas e da Defesa e dos assuntos do Mar. Mexia tem a seu cargo a Administração Portuária, com a gestão dos portos, e a tutela do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos vai para Portas.

Após quase dois anos de laboriosos e desvelados trabalhos, a actual maioria teceu um edifício orgânico próprio do Sec XXI para as áreas das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente, o celebrado MCOTA., superando um estado de coisas típico de um País às voltas com o seu futuro. Agora, talvez nostálgico dessas voltas, a citada maioria em passada decidida faz marcha- atrás e, tarefa para o próximo semestre, vai transformar, laboriosa e desveladamente, o tal edifício, velho de meses, em dois outros: o MAOT e o MCAHDR.

Como ficará enquadrada a Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável?

A Senhora ex- MCES, agora MCIES, que pontuava na Ciência e titubeava no Ensino Superior, fica a partir de agora só com este ( trata-se talvez de subir a nota) e larga aquela, cuja continuidade e aprofundamento ficam entregues a um recém chegado Secretário de Estado.
Sem competências e sem sítio para trabalhar o que vai fazer para Évora o Secretário de Estado Amaral Lopes com a sua chefe do gabinete e dois adjuntos?

Já para Braga, Coimbra e Aveiro se percebe ao que vão os Secretários de Estado “deslocalizados”: esperar que as ideias cheguem e o tempo passe.

Se tiverem ideias boas, dão, a Lisboa, uma saltada aos respectivos ministérios.

O Secretário de Estado da Agricultura teve mais sorte. Não vai ser “deslocalizado” para Santarém, pela simples razão de que já lá estava localizado. Mas sempre foi avisando: “Não contem comigo para prefabricados”.

Duas notas, que se prendem com o que antecede:

Jorge Coelho, o tal do “quem quiser ser líder do PS tem que falar comigo”, exclamou, durante o debate do programa do Governo, sobre Santana Lopes:

“Que desgraça! O gajo não sabe nada de nada”.

Por outro lado, Luís Felipe Menezes, o autarca de Gaia, irrequieto, aos galões, deixou cair, numa entrevista onde assegura ser capaz de ocupar qualquer lugar como ministro ( pobre Teresa Caeiro), que:

“Houve pessoas que dias antes de serem membros do Governo conspiraram em hotéis e apartamentos contra a liderança de Santana Lopes.”

Em apartamentos e hóteis!

Que ricos tempos.


Bruno Ventana

FARÓIS DE AVISO COM AQUECIMENTO CENTRAL

“A maioria das vezes, o barulho que o caruncho faz não se deve a estar a roer a madeira, mas ao facto de estar a dar cabeçadas no solo da galeria para chamar a atenção do companheiro ou companheira.”


Moita Flores explicou ao Independente que a célebre cabala no caso Casa Pia foi afinal urdida por António Costa, que, por ambição e com falta de honra, queria o lugar de Ferro.

Esse lugar deve ser bom, porque agora se vão a ele um poeta de provas dadas (ademais resistente ao fascismo, regime que se finou na década de setenta do século passado), um auto considerado animal feroz (quando o contrariam) e um patusco grupinho “Mário, João&Jonas”, a que se agregam figuras como António Saleiro e um conhecido autarca de Alpiarça.

Apesar de muito instado pela esquerda do partido, TóZé, talvez por ser da direita do mesmo (que já tinha o animal feroz), ficou-se.

E à guisa de explicação, o referido poeta contou que “nunca foi soarista”. O que fez, explicitou melhor, foi “ajudar a construir o soarismo”.

Ferro, esse, vai marinando uma candidatura presidencial.

Que ricos tempos.


Bruno Ventana

2.8.04

ASSIM VAI LISBOA


Santana Deixa Câmara de Lisboa com Dívidas de 100 Milhões de Euros
A Câmara Municipal de Lisboa (CML) enfrenta sérias dificuldades financeiras, com dívidas de 100 milhões de euros a fornecedores que se devem, em grande parte, a um aumento abrupto da despesa e à incapacidade da autarquia, agravada nos últimos dois anos - período que corresponde à presidência de Pedro Santana Lopes -, de gerar receitas com bens de investimento.”

21 de Julho no “Público


Câmara de Lisboa Diz Que Dívida É de 88 Milhões de Euros e Não de 100
A Câmara de Lisboa disse ontem que a sua dívida a fornecedores é de 88 milhões de euros, ao contrário dos 100 milhões noticiados ontem pelo PÚBLICO, e adiantou que um quarto daquele valor (26 milhões de euros) corresponde a encargos herdados do executivo socialista.”

22 de Julho no “Público”


Casino de Lisboa Muda-se para o Pavilhão da Realidade Virtual
O presidente da Associação Turismo de Lisboa (ATL), Pedro Pinto, disse ontem ter garantias que o novo casino de Lisboa se irá situar no Pavilhão da Realidade Virtual, no Parque das Nações.”

28 de Julho no “Público”


Novo casino vai para o Pavilhão do Futuro
Por mais do que uma vez, Pedro Pinto referiu o Pavilhão da Realidade Virtual como
o novo espaço. Um "lapso", segundo a Estoril-Sol”

28 de Julho n’ ”A Capital


Vice-presidente da CML gasta 60 mil num carro
Dois administradores do Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL), entre os quais a vice-presidente da Câmara de Lisboa, Teresa Maury, gastaram cerca de 120 mil euros (24 mil contos) na aquisição de duas viaturas. O presidente do MARL, Frederico Melo Franco, confirmou ao DN a compra, considerando que se tratou de um «acto de gestão aprovado pela comissão executiva», apesar do estado de falência técnica em que a empresa se encontra.”

29 de Julho no “Diário de Notícias


“Secção A, S.A.
A Gebalis, empresa de gestão de bairros sociais da Câmara de Lisboa, já contratou mais de 20 militantes da secção A do PSD-Lisboa.

Desde já se avisa que a história é pouco edificante. A Gebalis, empresa da Câmara de Lisboa responsável pela gestão dos bairros sociais da capital, engordou drasticamente nos últimos dois anos. Durante a gestão socialista tinha pouco mais de uma centena de trabalhadores. Hoje, passados dois anos da vitória de Pedro Santana Lopes em Lisboa, tem mais de 240 quadros.”

30 de Julho n’ ”O Independente



PORTUGAL

“…..
Hoje
Sei apenas gostar
Duma nesga de terra
Debruada de mar.”
Miguel Torga


“ ………..
O instinto, porém, protesta ainda.
E homens e bichos, irmanados no mesmo ardor que ele desperta, encontram-se dia a dia nos terreiros que o sol da razão não ilumina. Ora, é no Ribatejo o sítio do mundo onde esse embate é mais belo e natural.

A luta ali não é para servir nenhum senhor, ou para distrair a atenção inquietante das massas. È um lúdico acto de coragem, alegre e soalheiro. Por sentir que o combate que vai travar não é um fruto do rancor mas o desabrochar de uma espontânea solicitação., o campino veste-se de garridos trajes, ergue na mão um pampilho, o ceptro da sua majestade, o símbolo de uma grandeza feita de graça e valentia e, quando soa na praça o clarim da refrega, é assim vistoso e confiado que ele se expõe. E chama festa brava à lide gloriosa!

O toureio português, ribatejano, é a prova de que nem tudo no homem é cobardia de açougue, mistificação vegetariana. A vida é um desempate permanente, e o que é preciso é jogar com limpeza e formosura em cada número da caprichosa roleta.
………….”
M. Torga ( Portugal)

Bruno Ventana

CONTOS EXEMPLARES

“Faróis distantes,
De luz subitamente tão acesa…”
Álvaro de Campos


“…e quando entrávamos no bar um homem, sempre o mesmo, voltava-se no banco alto e, trazendo o seu copo, vinha sentar-se connosco numa mesa.
E era difícil dizer de que tempo ele vinha; pois das personagens das histórias dum tempo antigo ele tinha a voz, o olhar e os gestos, mas não o destino nem a vida vivida. Era mesmo como se ele tivesse rejeitado todo o destino, toda a vida vivida, como uma coisa alheia, exterior e falsa, e lhe bastasse aquele momento, aquele bar, aquela conversa, aquele copo.
Era como se ele tivesse querido guardar o seu ser à margem do vivido, por não haver na vida acto nenhum onde o ser pudesse ser cumprido e a existência concreta fosse apenas deturpação, falsificação, profanação.
E assim ele tinha resolvido usar a sua própria vida como não sendo dele, usá-la como os músicos da orquestra usavam os seus fatos alugados.
………….
E o homem que se tinha vindo sentar junto de nós falava misturando as suas palavras com o tempo, com a noite, com o barulho do mar, com o respirar da brisa nas folhagens. E das suas palavras nascia uma grande imagem que se ia abrindo e desdobrando em inumeráveis espaços.
A sua sensibilidade era tão perfeita que até na própria madeira da mesa a sua mão pousava com ternura. Enquanto falava abria espantosamente os seus olhos, que eram azuis como o azul duma chama de álcool. E o seu olhar era desmedido e impessoal como se para além de nós ele olhasse outra coisa. Talvez:

A memória longínqua duma pátria
Eterna mas perdida e não sabemos
Se é passado ou futuro onde a perdemos
E à medida que ia falando, a imagem que nascia das suas palavras ia-se tornando interior à alma daqueles que o escutavam, como um mito. Ele era como um limite como um marco que dissesse:
Daqui em diante o mar não é mais navegável.

No entanto ele não se confundia com um deus. Nos deuses ser e existir estão unidos.
Nele a vida vivida nem sequer era serva do ser, nem sequer era o chão que o ser pisava, mas apenas acaso sem nexo, desencontro, acidente sem forma e sem verdade, acidente desprezado.
……….
Ele esteve um longo tempo calado. Depois debruçou-se sobre a mesa e disse:
………….
There is a sea,
A far and distant sea
Beyond the farthest line,
Where all my ships that went astray
Where all my dreams of yesterday
Are mine.

Lá fora as lâmpadas das ruas já se tinham apagado havia muito tempo.
……….”

Sophia de Mello Breyner Andresen (personagem inspirado em D..José Zarco da Câmara, Conde da Ribeira Grande)

Bruno ventana

O PALÁCIO DAS LARANJEIRAS E DA CIÊNCIA

“Personifica-se o nosso próprio papel, uns mais tempo, outros mais depressa, e sai-se de cena. Já vi muitos passarem à minha frente, outros ver-me-ão passar a mim, e darão o mesmo espectáculo aos seus sucessores “

Saint-Savin


A maioria que vem prevalecendo desde Abril de 2002 fala, no(s) seu(s) programa(s ) de Governo(s), de uma aposta estratégica na Ciência, e neste particular fala, como todos hão-de convir, bem.

Vai daí, para dar impulso, optou pela linha “muitos e bons”, achando por certo que tal via é superior à linha “poucos e maus”, sendo provado que o é em relação à linha “muitos e maus”. E, ainda, será superior aqueloutras “poucos e bons” e “ muitos e assim assim”. Também ganha às linhas “ alguns e maus” e “alguns e assim assim”.

Para não falar da linha “alguns e bons”.

Em cerca de dois anos, o Prof. Manuel Fernandes Thomaz, o Prof. Pinto Paixão, o Eng. Moreira da Silva e o Prof. Sampaio Nunes, deram corpo à referida linha, como Secretários de Estado responsáveis pela área em apreço.

Juntando os dois Ministros, que neste período serviram o mesmo desígnio, temos seis (6) governantes para a Ciência em dois anos.

O PS, esse, teve um em seis anos. O mandarim, esse, o do pagode.


Bruno Ventana

PALÁCIO DAS LARANJEIRAS

“Este Barão ( d´Esquiville) muito conhecido era de todos nós, porque muito tempo residira em Lisboa, tendo-se introduzido no palácio do Conde do Farrobo e chegando a representar no seu theatro. Era tido como um aventureiro.
…………
Nem todos os aristocratas mostraram nesta ocasião a sua pouca dedicação pela Rainha D. Maria II. A par dos que se escusavam do serviço ou se evadiam para bordo da nau do Almirante Parker ou se escondiam havia um bom número de fidalgos que corriam a alistar-se nas fileiras. O Conde do Farrobo, apesar da sua patente de coronel da segunda linha, alistou-se como simples soldado e rondava a capital.
…………

Uma tarde fui chamado ao paço e a Rainha preveniu-me de que os ministros instavam pela minha demissão e que o decreto estava lavrado e assignado. Decidi-me a guardar o maior segredo e a esperar pela demissão, mas não o pude conseguir por muito tempo, visto os ministros terem proposto ao Conde do Farrobo o substituir-me e elle ter vindo prevenir-me ao meu camarote, no Theatro de S. Carlos, dizendo que partia para o Farrobo, porque de forma nenhuma queria aceitar aquela comissão.
…………
As minhas relações com o Conde do Farrobo datavam da primeira mocidade. As casas dos nossos paes eram vizinhas, nascemos no mesmo bairro de bemfica e não nos podemos chamar velhos um ao outro, porque elle apenas tem mais vinte dias do que eu.

No meado de Março de 1851, estando eu no meu gabinete do Governo Civil, recebi um bilhete do Conde, dizendo-me: meu amigo tenho a dizer-lhe um negócio muito importante. Não convém que eu ahi vá, venha ver-me.

Saindo do governo Civil, encontrei o Conde , o qual me interpellou, dizendo-me: Vo cê, pela sua polícia, sabe duma conspiração?

Disse-lhe: Sei o que todos sabem: que o Duque de Saldanha conspira.

Ao que o Conde me replicou: Pois saiba mais que sahe para a rua por estes oito dias, e que eu fui hontem convidado para fornecer meios e ameaçado de me fazerem grande transtorno na grande demanda que tenho, se não os promptificar.
…………….”

Memórias do Marquês de Fronteira e Alorna


Bruno Ventana

1.8.04

A SEDUÇÃO E O MANDO

“El arte es todo lo que sobra, una vez se há ejecutado la suerte como mandan los cánones”
ANTONIO BIENVENIDA

Último monarca a reinar no Egipto, Faruk era conhecido pela sua glutonice, promiscuidade, caprichos e cleptomania.

Conseguia chorar pela morte de um coelho em certo momento e depois pegar um gato pelo rabo e atirá-lo contra uma parede no momento seguinte.

Um dos seus primeiros actos como rei foi pintar os seus carros (mais de cem) de vermelho flamejante e proibir que qualquer outro carro fosse pintado dessa cor, para que pudesse andar em alta velocidade pelas ruas e estradas sem ser importunado pela polícia.

Bruno Ventana