6.7.04

A VERDADEIRA CABALA

“A maior crise desde o 25 de Abril…”, Pintassilgo dixit…

É que, se assim não fosse, de que se lamentaria o pobre lusitano? O Euro acabou, a Casa Pia está fora de moda, o Benfica já tem treinador, o recorrente suspiro do défice democrático não parece colher no povo abstencionista…

Era preciso uma crise. Mas uma crise grave, de contornos tenebrosos, aqui e acolá com laivos de Kumba, retocado por pinceladas de Jeffrey Archer, mas sobretudo o ingrediente clássico – sem esperança de beneficiar senão alguns protagonistas.

Esta, sim, a verdadeira cabala. O segredo estava na bandeira. O aparentemente inocente pano vermelho e verde foi desvelado quando começaram a surgir os pagodes, reais símbolos da primitiva versão.

E se não houvesse crise alguma? O sol continuava a nascer todos os dias, os autocarros a encher, as lojas a vender. Mas haveria um desalento submerso, de ausência de alvo a combater. Por isso, desde o Extremo Oriente à ocidental praia lusitana, gerou-se este movimento conspirativo de abalo à paróquia. Não tinha graça se tudo fosse pacífico e seguisse o seu curso normal.

Vendo bem, até Henrique VIII antecipou, no seu leito de morte, o presente cenário luso, quando suspirou, agonizante “all is lost…”

Dê-se crise, pois. Para o lusitano serenar.