29.11.04

LINHA MURUROA

Da França, país elegante de onde nos chegam as bonitas modas, os sensíveis perfumes e os mais gostosos bombons (esses, os do Ambrósio que, pela forma como conduz a Senhora, é ainda da parentela do Mandarim) chega-nos também a ideia nova – o nuclear!



Não é de discutir agora as vantagens e desvantagens da opção. É mas é de aprender o que é a diplomacia económica, a guerra por outros meios. Ou de como os interesses do nuclear conseguiram trazer à baila um assunto que andava há muito esquecido



Devotai, para começar, um olhar pelas sábia terras do Oriente, onde a China, a imensa China, na sua sabedoria milenar, vai empestando o mundo e sugando o petróleo que ainda vai havendo.



A 12 de Novembro, em entrevista ao Diário do Povo chinês, o ministro francês François Loos dizia: “several major cooperation plans of symbolic significance are driving the economic relations between France and China.” Por exemplo (e é de notar o caracter meramente simbólico da coisa) “we plan to jointly develop a new, more advanced nuclear reactor with China.“



Já em Singapura, um pobre fazedor de opinião e trabalhador de uma empresa de comunicação, escrevendo para um dos jornal de maior audiência (Today) dizia “Let’s think nuclear. Many other nations have already chosen to go this route.” E citava Mme. Carin de Villiers, porta-voz da empresa Eskom, que, incidentalmente, está metida num sururu legal por causa de uma central na África do Sul “Nuclear power is clean from an emissions point of view”. Como Jack o Estripador era inatacável, do ponto de vista do furto por esticão.

E em Portugal? Neste doce país filho do sol e de São Tiago, a dança também já começou. Patrick Monteiro de Barros, filantropo e cheio de santa bonomia, perora na capa do Expresso dizendo que o país não pode viver sem três-centraluchas–três, a conta que Deus fez.

Já Cardoso e Cunha, homem consabidamente honesto, amigo do lar, com aquela imaculada e sobejamente conhecida aversão a misturar interesses privados com políticas públicas, referia ao “Público” que defendia a opção do nuclear. “A ideia”, diz o santo homem, "já está a ter seguidores em alguns países europeus, onde se repensa a instalação de centrais nucleares para fazer face à subida do preço do petróleo.”

Só para acamar: quais as relações entre Cardoso e Cunha e o actual secretário de Estado da Ciência, o mesmo que, segundo a imprensa, foi autorizado pelo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes a participar em eventuais debates sobre o uso da energia nuclear no país, apesar dela ter sido afastada no pacote de medidas contra a dependência nacional em relação ao petróleo? Vale um doce, linha Mururoa.


Venâncio.