15.4.05

NO RESCALDO DO CONGRESSO DO PSD IV

Porquê Marques Mendes ganhou por uma margem tão curta?

Três razões.

1. Um discurso difícil

Marques Mendes fez um primeiro discurso onde criticou de modo directo o anterior líder – Pedro Santana Lopes enquanto presidente do partido mas também como primeiro-ministro.

Tinha que o fazer. Foi por ter criticado Santana Lopes que ganhou particular legitimidade para se candidatar à liderança do PSD. Tinha que o fazer porque era isso que esperavam dele. Tinha que o fazer porque tinha razão.

Acontece que Santana Lopes, logo na abertura, ao invés de humildemente assumir os erros que cometeu, insistiu em justificar-se, transformando qualquer esboço de crítica à sua acção numa traição ao partido e a cada um dos militantes. Santana Lopes criou um clima quase inquisitório no congresso. E não o fez por acaso, fê-lo antecipando o discurso de Mendes de modo a tentar salvaguardar a sua imagem para o futuro. Santana Lopes tinha neste congresso um objectivo: não ser crucificado. Conseguiu.

Criado este ambiente, o primeiro discurso de Marques Mendes foi particularmente corajoso. Mas tinha de ser feito sob pena de não haver clarificação no congresso.

2. Um adversário demagogo e populista

Luís Filipe Menezes, herdeiro do estilo de Santana Lopes, utilizou a demagogia e o populismo como postura no congresso.

Prometeu tudo aquilo que os delegados queriam ouvir, fez um discurso sobre o PS e o governo do estilo “agarrem-me senão vou-me a eles”, massajou o ego aos pobres delegados, secções e concelhias, comprometeu-se a abdicar de poder para os dar às bases no estilo “tirar aos ricos para dar aos pobres”.

Deste modo conquistou, com a emoção irracional, a simpatia (mas não a convicção) dos congressistas.

3. A contra informação

Uma arma utilizada pela candidatura de Luís Filipe Menezes foi a contra informação.

Em determinada altura, com grande intensidade, eram postos a correr os mais variados boatos que davam conta de supostos apoios de nomes importantes e inesperados do partido, eram afirmadas transferências de apoios de Mendes para Menezes, eram relatadas reuniões de distritais que decidiam em pleno congresso apoios maciços a Menezes.

A frase que era cirurgicamente utilizada pelas hostes “menezistas” era que “isto está a virar”.

Com este clima, alguns dos delegados começaram a duvidar da vitória de Marques Mendes, começaram a ficar confusos (objectivo de qualquer contra informação), começaram a pensar duas vezes pois davam conta que algumas das suas figuras de referência estavam “a virar”.


Manuel S. Carneiro