23.7.05

O PADRINHO

"a pólvora

Sábado, Julho 23, 2005
Vem no Expresso, vem no DN, na TSF, e Medeiros Ferreira perora e delira - Mário Soares será (!) o candidato presidencial federador das esquerdas, o salvador que impedirá a segunda vinda de Cavaco.

Confesso que a ideia me atrai, quase tanto como ver o Dr. Lopes ou Sr. Alberto da Madeira candidatos.

Mas, em nome de alguma honestidade intelectual, convém dizer que - até do ponto de vista da(s) esquerda(s) - a ideia é profundamente limitada e imbecil.

Não falo da provecta idade do Dr. Soares, 81 anos, mas tão somente do perfil do homem, e da presente conjuntura.

Eu percebo que a esquerda trema de pavor com o cenário de Cavaco em Belém mas, convenhámos, tudo - rigorosamente tudo - aquilo que de "indesejável" a esquerda teme em Cavaco - desde a ingerência à dissolução - é, infinitamente, mais susceptivel de acontecer com Soares, já que ao contrário de Soares, Cavaco não tem uma verdadeira corte, pesem os alegados cavaquistas, não tem um partido - se é que alguma vez realmente teve - e tem - coerente e consistentemente - uma visão previsivel e determínistica dos cargos e das funções.

O que une a esquerda em torno de Soares é o desejo de uma fiscalização ideológica, pura e dura, da maioria absoluta de Sócrates, a esquerda, que tolera, mas não confia, em Sócrates, vê em Soares o tutor ideal, o Padrinho.

Fosse por absurdo Soares eleito e os Conselhos de Ministros passariam a ser em Belém.

Dito isto, não deixa de ser poético ouvir Medeiros Ferreira, o qual, não se sabe sobre influência de que substâncias, até antevê que se Soares avançar, Cavaco o não fará.

Também não deixa de ser irónico ver - agora - Soares, que pôs, em tempos, Eanes a as suas derivas no sítio deixar-se utilizar na mais pura deriva e lógica eanista/messiânica, mas as coisas são o que são.

Nos entretantos, parece que o programa - o Homem tem afinal um programa - do PS, que foi sufragado e tudo, é para tomar à letra, e que quem o não tomar à letra leva.

Há - et pour cause - o banalíssimo detalhe de que muitos dos mesmos que agora o recordam omitiram o mesmo aquando da recente subida de impostos.

Muito menos, mas isso sou eu um distraído - ouvi algum analista dizer - antes, durante ou após as últimas legislativas - que o PS iria ganhar por causa do seu programa. Mais, estou para ver um qualquer estudo que diga que houve mais gente a votar no PS por via da promessa da Ota e do TGV do que a votarem no PS por via da promessa de não aumentar os impostos (e que foram aumentados), sendo que até um cepo percebe que a esmagadora maioria votou no PS porque não queria ver mais à frente o Dr. Lopes.

Voltando às presidenciais, avance Dr. Soares, avance mesmo! Você talvez não mereça, pelo seu passado, pelo muito que já deu ao país, mas os seus seus - desesperados - apoiantes merecem com toda a certeza uma lição monumental.
Publicado por Manuel às 2:10 PM."



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