15.8.05

BRRRUMMMMM !






Tarde quente nas imediações da praia do Vau.
O candidato em férias do processo de escutas, o "da lufada de ar fresco", para usar a feliz expressão de vitor ramalho, agita-se birrento:

Imagina o céu atravessado por uma nuvem sublime. Por esse espaço sem medida vagueia a sua alma que clama, perdida no azul.

De vez em quando faz concha com as mãos e pergunta ao Mistério: "Quando surgirá a vaga de fundo"?

E o Mistério permanece em silêncio. E o silêncio do céu é pavoroso. Não se parece com nenhum outro silêncio. É o silêncio por antonomásia. O que é uma voz nessa nua imensidão? Nada, menos que nada.

O candidato em férias do processo de escutas chega a recear não existir, e que os seus gritos sejam o sonho de um fantasma que se sonha a si mesmo.

"Quando surgirá a vaga de fundo", repete aos ventos da rosa, sem a menor esperança.

E os ventos calam-se.

Insiste o seu clamor, insiste sem qualquer covicção e já está desesperado quando os céus se abrem, quando a cabeça da nuvem se ilumina com uma luz celeste.

Raios e trovões potentissimos brotam do alto e o orbe dos astros agita-se com um espantoso terramoto. Brrrummmmm!

O candidato em férias do processo de escutas cai de joelhos e oculta o rosto.

"Santo, Santo, Santo", exclama o seu coração.

E uma voz como de mil águas responde-lhe lá de cima:" A vaga do fundo surgiu hoje! Em Leiria! Pela mão do Zé Augusto e da Odete João!"






cristovaodovale
sb. texto de
gonzalo torrente ballester

2 Comments:

At 11:14 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Verdadeiramente fenomenal

jh

 
At 1:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

É o retrato patético de um pobre primadona enrolado em si próprio.
O homem havia de ter um familiar ou amigo que o ajudasse.
É de notar no meio disto tudo a campanha da comunicação social , a lembrar o heróico período da sabotagem pura e simples em que a manipulação campeou pura e dura (1992/96)

gil f. matos

 

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