18.8.05

OH QUE MARÉ TÃO DE PRATA

"Quando nasci já trazia um deficit de dois whiskies."
C. Montagu








Discorrendo debaixo da lua cheia de Agosto, a lua do esturjão, vem a pêlo um dito apanhado no Memorial:

"O acerto de hoje amanhã é erro e o desejado conseguido enfastia, porque tudo se vai alternando."

Está aqui, todinha por inteiro, a decifração dos enredos das pugnas de Inverno que por aí vêem.

Até porque as aventuras de correio a cavalo e os sueltos políticos são tratos de patusquinhos.

Voltado à lua luneira, "das luas, dizem os livros de ciência as suas fases, e com elas se conjugam as marés, fazendo contas aos dias que se enrolam nas suas ondas.

Mas das luas sabe o povo também, para além dos crescentes e minguantes, os seres estranhos que despertam nos sonhos da sua memória: bruxas e lobisomens, fradinhos da mão furada misturados com diabos, e ainda olharapos e sereias, mais o rosto escondido de mouras encantadas.

Cada qual com seu dom, cada qual com sua maldição: os segredos da noite ou as estrelas da morte, a magia das mãos e as almas do além, a espiral da loucura, a cegueira do encantamento, ou a luz da esperança que se acende no luar em que se enrolam os amantes."

Isto tudo é sabedoria da rapaziada de etnografia e folclore da academia de Coimbra, mas sem desprimor, acho que a Angelina Jolie soube pôr a questão de maneira mais simples, mais aluarada:

“Muitas das minhas relações não foram suficientemente honestas, por isso optei por caminhos diferente, experimentando a selvajaria e a violência."

No entanto, valha a verdade, quem sabe de luas é o diabo.

Então tratando-se de lua cheia, ela e o diabo sempre prosaram bem.

Assim, ao rigor de uma moda antiga, navegando aos longes, para trás e para diante, à uma de memória, à outra de vislumbre, fiquemo-nos com Gil Vicente mais à sua canção do diabo:

“À barca, à barca, senhores.
Oh que maré tão de prata!
E valentes remadores.
“Vos me venirdes á la mano,
Á la mano me venirdes:
Y vos veredes,
Peixes nas redes…”



cristdovale

2 Comments:

At 10:17 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Where did you find it? Interesting read »

 
At 4:50 da tarde, Anonymous Diana Lascasas said...

Olá. Estou a ler o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, para Português. Se soubesse, podia explicar-me o significado de "que maré tão de prata" ? Obrigada

 

Enviar um comentário

<< Home