OH QUE MARÉ TÃO DE PRATA
"Quando nasci já trazia um deficit de dois whiskies."
C. Montagu
Discorrendo debaixo da lua cheia de Agosto, a lua do esturjão, vem a pêlo um dito apanhado no Memorial:
"O acerto de hoje amanhã é erro e o desejado conseguido enfastia, porque tudo se vai alternando."
Está aqui, todinha por inteiro, a decifração dos enredos das pugnas de Inverno que por aí vêem.
Até porque as aventuras de correio a cavalo e os sueltos políticos são tratos de patusquinhos.
Voltado à lua luneira, "das luas, dizem os livros de ciência as suas fases, e com elas se conjugam as marés, fazendo contas aos dias que se enrolam nas suas ondas.
Mas das luas sabe o povo também, para além dos crescentes e minguantes, os seres estranhos que despertam nos sonhos da sua memória: bruxas e lobisomens, fradinhos da mão furada misturados com diabos, e ainda olharapos e sereias, mais o rosto escondido de mouras encantadas.
Cada qual com seu dom, cada qual com sua maldição: os segredos da noite ou as estrelas da morte, a magia das mãos e as almas do além, a espiral da loucura, a cegueira do encantamento, ou a luz da esperança que se acende no luar em que se enrolam os amantes."
Isto tudo é sabedoria da rapaziada de etnografia e folclore da academia de Coimbra, mas sem desprimor, acho que a Angelina Jolie soube pôr a questão de maneira mais simples, mais aluarada:
“Muitas das minhas relações não foram suficientemente honestas, por isso optei por caminhos diferente, experimentando a selvajaria e a violência."
No entanto, valha a verdade, quem sabe de luas é o diabo.
Então tratando-se de lua cheia, ela e o diabo sempre prosaram bem.
Assim, ao rigor de uma moda antiga, navegando aos longes, para trás e para diante, à uma de memória, à outra de vislumbre, fiquemo-nos com Gil Vicente mais à sua canção do diabo:
“À barca, à barca, senhores.
Oh que maré tão de prata!
E valentes remadores.
“Vos me venirdes á la mano,
Á la mano me venirdes:
Y vos veredes,
Peixes nas redes…”
cristdovale
2 Comments:
Where did you find it? Interesting read »
Olá. Estou a ler o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, para Português. Se soubesse, podia explicar-me o significado de "que maré tão de prata" ? Obrigada
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