18.10.05

HISTÓRIA DE BOLSO

“Ó portugal, se fosses só três sílabas,
Linda vista para o mar,
(...)
Se fosses só o sal, o sol, o sul,"
Alexandre O´Neill




Em 1830 o rendimento médio de um português andava pelos 250 dólares.
Estava acima do belga (240), do dinamarquês (225), do sueco (235), e também do alemão (240), do norte americano (240) e do japonês (180)
Apenas era superado pelo rendimento de um inglês (370), de um canadiano (280) ou de um francês (275).

Trinta anos mais tarde, Portugal tinha aumentado o seu rendimento médio per capita para o equivalente a 290 dólares, mas tombara significativamente em termos comparativos. Encontrava-se agora muito atrás, do Reino Unido (600), dos Estados Unidos (550) e da Suiça (415) e também dos países nórdicos, da Espanha,Bélgica e Holanda.

Em 1913, três países – Estados Unidos, Reino Unido e Canadá - ultrapassavam a barreira dos 1000 dólares e, no mundo industrializado, Portugal era um dos três (com o Japão e a Rússia) a quedar-se na casa dos 300 dólares.
Em 1929, apenas a União Soviética (350) se encontrava atrás de Portugal (380).
Em 1950, com 440 dólares, Portugal voltava a ser penúltimo, com a Espanha,marcada pela guerra Civil, a regredir e a cair no último lugar (430).

Fundado em 1143, Portugal assinou com Castela em 1927 o Tratado de Alcanises,pelo qual se firmaram praticamente as suas fronteiras actuais.

Em 1415, um país de um milhão de pobres e analfabetos camponeses lançou-se numa surpreendente Expansão.
Em 1494, o poder portugês atinge o seu auge e é celebrado com a outra superpotência do tempo o tratado de Tordesilhas, ficando o mundo dividido em duas esferas de influência.

Donde veio a decadência?
Dois factores importantes para o declínio económico e espiritual foram a
expulsão dos judeus (1496) e a introdução da inquisição (1536).
Os judeus tinham os capitais e o saber científico e cosmopolita fulcrais para odesenvolvimento. Por outro lado, com a inquisição, Portugal sofria os efeitos estagnadores da contra-reforma e os efeitos destruidores das fogueiras do SantoOfício sem ter navegado os ventos da Reforma.
Em 1640, o brilhante Padre António Vieira foi usado como embaixador de D. JoãoIV pela Europa fora, procurando legitimar o novo regime.

Os seus grandes objectivos eram o regresso dos judeus mais os seus capitais (entretanto emigrados na Holanda) e fazer cessar a inquisição. Não teve êxito.

As riquezas do Brasil, a partir de 1693, a acção do Marquês de Pombal, 50 anos depois, as invasões francesas em 1806, provocaram sobressaltos que nunca consumaram uma passagem sustentada para o desenvolvimento continuado.

As revoltas liberais e a guerra civil entre cartistas e miguelistas desembocaram num rotativismo que não deu sangue novo a uma monarquia velha de oito séculos,que morre desprestigiada, falida e pobre em 1910.

Na primeira República houve de tudo, menos democracia e desenvolvimento.

O Portugal rural, analfabeto, descalço continuou sem arrancar e o descalabro levou ao 28 de Maio.
Meio século mais tarde, cai outro regime, deixando o país com os indicadores económicos e sociais mais atrasados do continente.

561 anos depois o país regressa ao seu território europeu e estabiliza a democracia nos anos oitenta.Com a adesão à CEE o crescimento económico ganha novo balanço e a convergênciaface à media europeia parece atingível.
Mas com o final do século voltam as angústias e a divergência. O fosso em relação aos parceiros volta a alargar-se.

Qual a razão de tudo isto?Falhou o povo ou falharam as elites que o foram governando ao longo da suaHistória?
Em 1900 a percentagem de analfabetos em Portugal era de 78% contra apenas 3% noReino Unido.
Hoje cerca de 77% da população adulta apresenta níveis de literacia dos mais
baixos da OCDE. São, estes dados, causa ou sintoma?

Enfrentando o dogma segundo o qual o económico precede o social, o qual, por sua vez, determinaria o mental, cremos, com Peyrefitte, que a razão fulcral do desenvolvimento económico e da modernidade reside num conjunto de factores socio-culturais que se traduzem em atitudes, comportamentos, maneiras de estar e de ser – um ethos – dos homens e das mulheres numa sociedade.

Se assim for, se aí residirem os porquês, havemos de convir que o nosso lugar no mundo (nos “melhores” trinta) não é brilhante nem trágico.

O que seria desejável era, promovendo contra as marés da nossa natureza um ethos de confiança competitiva, não descer comparativamente (muito mais) no quadro dos nossos parceiros da União Europeia.

(Fernando C. De Oliveira- “Publica – 31.12.00;
A. Peyreffite – “O milagre em Economia” )






CrsTdVaL
LourBravl

1 Comments:

At 1:21 da tarde, Blogger Roberto Iza Valdés said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

 

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