FERREIRA LEITE É BRAÇO ARMADO

Manuela Ferreira Leite revelou ontem que se teria abstido na votação do Orçamento de Estado (OE) para 2006, contrariamente à posição assumida pelo PSD.

A ex-ministra das finanças de Durão Barroso não é uma militante qualquer. É tida como muito próxima de Cavaco Silva (ao ponto de ser voz corrente que o que faz e diz é sempre em total sintonia com o candidato presidencial). É tida como uma reserva para a liderança do PSD (dizendo-se que só não avançou no último congresso porque Cavaco achou que o momento não era interessante).

Com este enquadramento, a posição assumida por Manuela Ferreira Leite toma outras proporções.

De três uma:

É conhecida a sua personalidade "difícil" e o seu individualismo e teimosia (aliás muito semelhante ao "estilo Cavaco"). Nestas condições, é possível que tenha entendido tornar pública a sua opinião pois é o que pensa, não condicionando a sua publicidade a qualquer solidariedade com o seu partido e o líder do seu partido.

Por outro lado, considerando que existe um grupo de apoio à sua eventual candidatura à liderança do PSD, este poderá ter sido um passo para a se colocar a postos para disputar a liderança laranja. Simultaneamente, ocupou, deste modo, um espaço livre no seio do PSD, de todos quantos pensam o que Fereira Leite afirmou (e parece que são em número considerável).

Um terceiro cenário é possível: Sendo Manuela Ferreira Leite considerada a "voz de Cavaco", esta atitude de demarcação do PSD e de aproximação às propostas do governo socialista, pode ser parte de uma estratégia de Cavaco para ganhar espaço no centro e centro esquerda (na medida em que o centro direita e a direita estão já conquistados, mesmo que por exclusão de partes).


Eusébio Furtado