1.1.06

Nesses bailados

Lançar sementes à terra


Lançar sementes à terra, mas que terra?
Parece a mesma a quem não conhece
Pois os segredos que em seu seio encerra
Só são de quem por ela desfalece.

Lezírias chãs, ou faldas duma serra
Gleba morena, fresca, que apetece
Às mãos de quem por ela se desterra
P`los sonhos que o arado nela tece.

Brejos incultos, matagais, baldios
Tisnados ao hálito dos estios
Que do levante ardente sopram lestos:

Os teus mistérios, são as mãos que os trazem
As mãos que ao teu contacto se desfazem
Nesses bailados de fecundos gestos.


D. José Zarco da Câmara


guidoSarrasa

2 Comments:

At 2:41 da tarde, Anonymous Anónimo said...

D. José Zarco da Cãmara, Conde da Ribeira Grande, lavrador, poeta, violoncelista.
Aristocrata bon-vivant, a sua figura imponente e a sua elegância fascinavam, fosse em tabernas, fosse em salões,em Paris ou na Granja,em Londres ou em Santarém.
Inspirou Sophia Mello Breyner, que o descreveu na personagem central do fabuloso conto "A Praia" (in Contos Exemplares).
Uma velha admiradora contava que ele "fazia lembrar o principe de O Leopardo, mas com mais classe..."
Morreu em 1961.

guido sarrasa

 
At 2:53 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Obrigado Guido Sarrasa
Fico a dever-lhe a (re)leitura do belíssimo conto de Sophia e a descoberta da personagem, na verdade fascinante.
Um Bom Ano Novo.

José Amaral
Sintra

 

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