Sem pôr a mira no eterno
Não é de agora.
Trata-se - A Arte de Furtar - de uma obra publicada, sob anonimato, em 1652, com o mais assombroso subtítulo de todos os tempos:
Espelho de Enganos, Teatro de Verdades, Mostrador de horas minguadas, Gazua geral dos Reinos de Portugal.
Apesar de atribuída a sua autoria ao padre António Vieira, pode a mesma ser pertença de António de Sousa Macedo ou de Manuel da Costa (vd. Roger Bismut – INCM – 1991).
A Arte de Furtar põe a “Senhora Dona Política” filha da “Senhora Razão de Estado” e do “Senhor Amor-próprio”.
“Dotaram-na de sagacidade hereditária e de modéstia postiça. Criou-se nas Cortes dos grandes Príncipes, embrulhou-os a todos, teve por aios a Maquiavel, Pelágio, Calvino, Lutero e outros doutores dessa qualidade, com cuja doutrina se fez tão viciosa que dela nasceram todas as seitas e heresias que hoje abrasam o mundo”
Além do mais, “todos falam de política, muitos compõem livros dela e no cabo nenhum a viu, nem sabe de que cor é.”
E desdobra a máxima:
“A primeira máxima de toda a política do mundo que todos os seus preceitos encerram em dois, como temos dito, o bom para mim e o mau para vós.”
Ao aceitar a regra de “Viva quem vence... E vence quem mais pode, e quem mais pode tenha tudo por seu, porque tudo se lhe rende”, aqui “errou o norte totalmente, porque tratou só do temporal sem pôr a mira no eterno.”
(Quanta distância, a palmilhada desde 1652…)
brVtana
1 Comments:
Tenho, cá para mim, a convicção que essa obra integra a biblioteca do Mário Soares.
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