7.1.06

Sem pôr a mira no eterno

Não é de agora.

Trata-se - A Arte de Furtar - de uma obra publicada, sob anonimato, em 1652, com o mais assombroso subtítulo de todos os tempos:

Espelho de Enganos, Teatro de Verdades, Mostrador de horas minguadas, Gazua geral dos Reinos de Portugal.

Apesar de atribuída a sua autoria ao padre António Vieira, pode a mesma ser pertença de António de Sousa Macedo ou de Manuel da Costa (vd. Roger Bismut – INCM – 1991).

A Arte de Furtar põe a “Senhora Dona Política” filha da “Senhora Razão de Estado” e do “Senhor Amor-próprio”.

“Dotaram-na de sagacidade hereditária e de modéstia postiça. Criou-se nas Cortes dos grandes Príncipes, embrulhou-os a todos, teve por aios a Maquiavel, Pelágio, Calvino, Lutero e outros doutores dessa qualidade, com cuja doutrina se fez tão viciosa que dela nasceram todas as seitas e heresias que hoje abrasam o mundo”

Além do mais, “todos falam de política, muitos compõem livros dela e no cabo nenhum a viu, nem sabe de que cor é.”

E desdobra a máxima:

“A primeira máxima de toda a política do mundo que todos os seus preceitos encerram em dois, como temos dito, o bom para mim e o mau para vós.”

Ao aceitar a regra de “Viva quem vence... E vence quem mais pode, e quem mais pode tenha tudo por seu, porque tudo se lhe rende”, aqui “errou o norte totalmente, porque tratou só do temporal sem pôr a mira no eterno.”


(Quanta distância, a palmilhada desde 1652…)



brVtana

1 Comments:

At 2:59 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Tenho, cá para mim, a convicção que essa obra integra a biblioteca do Mário Soares.

 

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