13.2.06

A civilização que as alimenta

"a propter vitam, vivende perdere causas"


"(...) Minha tese é, portanto, a seguinte:
a própria perfeição com que o século XIX organizou certas esferas da vida é a origem do facto de que as massas beneficiárias não a considerem como organização, mas como natureza.

Assim se explica e se define o absurdo estado de ânimo que essas massas revelam:
não se preocupam com nada além de seu bem-estar e ao mesmo tempo não são solidárias com as causas desse bem-estar.

Como não vêem nas vantagens da civilização uma invenção e uma construção prodigiosas, que só podem ser mantidas com grandes esforços e cuidados, acham que seu papel se resume em exigi-las peremptoriamente, como se fossem direitos naturais.

Nas agitações provocadas pela escassez as massas populares costumam procurar pão, e o meio que empregam costuma ser o de destruir as padarias.

Isto pode servir como símbolo do comportamento que, em proporções mais vastas e subtis, têm as massas actuais para com a civilização que as alimenta."


José Ortega y Gasset


bruno ventana