16.3.06

Mago da doblez


"Só conheci um traidor verdadeiro, perfeito : Fouché"
Napoleão Bonaparte


Em 16 de Janeiro de 1793, Joseph Fouché votou a favor da decapitação, na guilhotina, de Luis XIV e de Maria Antonieta.

Em 1815, no dia 1 de Agosto, ao casar-se com a jovem condessa de Castellane, o regicida teve como sua principal testemunha... Luis XVIII, irmão do guilhotinado.

Perante a escandalosa cena do rei amparando-se para caminhar no braço do ministro, Chateaubriand terá exclamado: "O vício apoiado na traição!"

Durante mais de vinte anos, numa das épocas mais complexas e determinantes da História, Fouché, manejando os fios por detrás dos cenários, foi um dos homens mais poderosos de França.

Sobreviveu à Convenção, ao Directório, ao Consulado, ao Império, à breve Restauração, aos "Cem dias" e ao segundo Directório, deixando pelo caminho Danton, Barras, Robespierre, Carnot e Napoleão.

Amoral, demoníaco, maquiavélico, cruel, reptil, frio, cínico, sinistro, intrigante, feio, traidor e assassino, para Heinrich Heine foi "un homem que levou a falsidade ao ponto de publicar, depois de morto, umas memórias falsas."

Talleyrand - um outro sobrevivente que o superou em talentos e maneiras - explicou que Fouché "despreza tanto a humanidade porque se conhece demasiado bem a si mesmo."

Balzac e Stefan Zweig viram-no a uma luz mais favorável. O primeiro tinha-o por "um génio singular, a cabeça mais brilhante que conhecera. O seu biógrafo - "Fouché: um génio tenebroso" - termina o seu trabalho com as palavras " foi o mais excepcional dos homens políticos."

Porque este homem, além de mau, foi astuto, inteligente, ousado, meticuloso, prudente e um fenomenal analista político. Goste-se ou não, como ministro da polícia criou uma organização tão perfeita que, décadas passadas, vários ministérios do interior a tomavam como modelo.

Como animal politico era um predador com o objectivo da sua própria sobrevivência. Não era um psicopata, nem uma besta, nem um torturador, nem um mero assassino.

Este mago da doblez era talvez uma coisa pior: não era nada.




(tirado de um texto de
Nicolás Casariego)
crisdovale