Quem foi Euclides?
" (...)
Cardoso Pires - Tive professores como o Câmara Reis, de Literatura, que era um bom professor. Mas era um bom professor não para um Liceu, mas para uma Universidade. Ele partia do princípio de que toda a gente já sabia o mínimo. E 90% não sabia.
J.C. Amarante - Portanto dava aulas para níveis mais avançados...
Cardoso Pires - A mim, esse professor deu literatura e foi um deslumbramento.
J. C. Amarante - Porquê?
Cardoso Pires - Porque ele falava de autores de que eu nunca tinha ouvido falar. Lembro-me muito bem que nessa altura (eu já tinha 15 anos), li o grande escritor da minha vida, o Ferreira de Castro. Foi um contacto que me transformou. Já estava farto de Bernardim Ribeiro.
J. C. Amarante - Houve outros professores?
Cardoso Pires - Sim, no 6º ano tive a sorte de encontrar um professor de Matemática, muito temido, chamado Alberto Beirão, que chumbava cavalarmente. Mas havia um grande respeito por ele. Quando aparecia numa turma, ficava tudo com medo porque, para começar, dava logo uma vassourada. Esse professor gostava muito de falar de História da Matemática e isso interessou-me. Eu não terminei o curso de Matemática por causa de duas cadeiras.
J. C. Amarante- Mas houve um outro professor de Matemática?
Cardoso Pires - Sim, houve. E era muito parecido com o Prof. Alberto Beirão. Ao explicar uma coisa, ele dizia, por exemplo, «este teorema foi inventado por Euclides. Quem foi Euclides?». Aquilo embalava as pessoas. De maneira, que pela primeira vez, tive notas razoáveis.
(...) "
José Cardoso Pires
(in Noesis-nº46-ABR/JUN 1998)
bruno ventana
8 Comments:
CCS diz que teve o mesmo professor de Matemática. Só faltava o bruno ventana também ter tido.
Felipe Gama
Uma coisa sei eu, Professores daqueles é que já não há.
O que há, na Matemática de hoje, em escolas portuguesas é mais ou menos o deserto.
jmn
O que o José Cardoso diz em duas penadas explica muita coisa que se passa à nossa frente.
L.M.
Ora aqui está uma coisa como deve ser.
O lugar na história, tambem na matematica, ganha-se com rigor e coerencia.
Fenprof.
Por acaso até ainda há professores assim - exigentes e muito competentes, só que a 'malta' acha-os sempre muito chatos - fá-los pensar e trabalhar, e isso dói a muita gente - não fazem parte daquele grupo do professor porreirinho, aquilo do nacional porreirismo que se criou a seguir ao 25 de Abril, e que dá notas muito boas, e trata todos os alunos por 'tu' para entrar na onda - na onda do esconder a incompetência da maioria dos que parecem ter tirado o curso na farinha amparo ou em qualquer outra
coisa 'moderna','lusíada/lusitana'
ou 'pendente/independente' - sabe-se lá porquê esta gente chega ao poder... e nós somos os cotas, ultrapassados e tristes, porque mal amados daqueles que não gostam de fazer nada. Resta sempre a consolação de haver alguém que mais tarde reconhece.
Pois, o nosso sistema de ensino está cheio de professores de matemática que pretendem, ou a isso são obrigados por imperativo de cumprimento de programas, ensinar toda a matemática. Depois,..., a maioria não aprende matemática nenhuma. Depois, esta maioria acaba por abandonar o ensino e ingressar nos cursos de formação profissional, onde os formadores, com muito menos horas lectivas do que nas escolas, tentam que eles aprendam alguma matemática, aquela que supostamente mais será necessária para a área de formação específica dos formandos, ao longo da sua vida profissional.
Well done!
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