17.8.06

Com precisão e justeza


«Em literatura o estilo é como o álcool para os corpos embalsamados:
conserva-a.
Toda a literatura que resiste à corrosão do tempo deve-o ao estilo.
Homero, Cícero, Shakespeare, Camões, Voltaire, Tolstoi foram grandes estilistas.
Quer isto dizer que o estilo seja uma arte? De modo algum.
Mas sem estilo nenhuma obra se salva.
Acresce que a nossa língua está tão pouco clarificada que apenas pensa com precisão e justeza quem escreve correctamente.
Julgar que em nome duma postiça originalidade ou evidenciação do humano haja de se abolir a técnica é pueril.
E fazer tábua rasa da experiência adquirida no domínio da expressão não pode deixar de representar um inútil, inglório e malogrado intento.
A palavra é como o mármore na estátua; dar a essa matéria semblante de vida, curvas voluptuosas, sombras quentes, frémito, solidez, eis o difícil objectivo que não se alcança de golpe. Com verbo desordenado, segundo a flux apocalíptica da imaginação, só poderá obter-se uma turva e destrambelhada arte.»



Aquilino Ribeiro



guido sarraza