Fato profugus
“He was the kind of man who was ready for anything, who hoped for nothing…”
ysimon
"O deserto não é a ausência.
É o estado anterior à presença, antes da travessia dos nómadas, antes da paragem dos aventureiros...
Donde vem esta nostalgia que trazemos connosco, que dá por vezes o sentimento de termos perdido a parte de imensidão que é nossa....
Haverá um espaço perdido, que pode ressurgir ao sabor dos nossos confrontos com as imensidões que cruzamos, o céu, os oceanos, os desertos, a noite...
Trará o código genético, além dos testamentos, o vestígio de uma viagem sem limites através dos esconderijos do universo...
Há nestes impulsos misteriosos para espaços infinitos, a marca de um esforço para o reencontro com uma imensidão dantes conhecida e, depois, desaparecida...
A vida seria então a construção de um invólucro que desamarra do mundo uma parcela de infinito, para lhe dar um peso, um lugar, um princípio e um fim.” *
“Os desertos da Líbia... as mais belas palavras que conheço. Líbia, uma palavra sensual, arrastada, uma nascente secreta... era uma das poucas palavras em que se ouvia a língua virar uma esquina... um homem será como rios de água na areia seca.
Vivi durante anos no deserto, e acabei por acreditar nestas coisas. É um lugar de recessos. O trompe l´oeil do tempo e da água. O chacal com um olho voltado para trás e outro posto no caminho que pensamos tomar. Traz nos dentes pedaços do passado que nos depõe aos pés e quando todo esse tempo se nos revela verificamos que já o conhecíamos.
No deserto, um homem pode agarrar a ausência na concha das mãos, sabendo que tem nela um alimento mais precioso que a água.
Estes homens de todas as nações viajam ao cair da tarde, pelas seis horas, quando reina a luz dos solitários.” **
*Yves Simon (the wondrous voyager)
** Michael Ondaatje (the english patient)
guidosarrasa
7 Comments:
Fabuloso. Aos amantes do deserto só são comparáveis os do mar. O resto é outra coisa
Subcrevo... e com comoção. A sensação é a mesma. Penso que em tudo comparável a pairar no Espaço.
Mas... Como pude perder este blog estes anos todos? Vou colocar um link no meu Atlântico Azul e passarei a ser visitante assídua.
Parabéns aos bloguistas e ao autor deste post.
Se este blogue apenas tivesse este post estava justificado. Cum laude.
AtV
Majestoso
Os três últimos parágrafos do excerto de Yves Simon, são a mais bela metáfora da Terra, da Vida e do Universo. Do Nome de Deus.
Um dos melhores posts de sempre da nossa blogosfera.
Simplesmente notável.
Isto é muito bom. Mesmo!
Artur Goulão
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