9.12.06

Compreender


















«Escrevi aqui antes das eleições presidenciais, que Cavaco Silva é o melhor Presidente que um bom primeiro ministro pode ter e o pior Presidente que um mau primeiro ministro pode ter.
Cavaco Silva é mais exigente consigo mesmo do que com os outros e prepara-se profundamente sobre cada assunto sobre o qual tem de decidir ou dar opinião. Nenhum primeiro ministro mal preparado sobreviverá nas relações com ele.
Depois, Cavaco Silva é uma personalidade racional, mas com uma elevada tensão impaciente. A racionalidade permite-lhe agir metodicamente e não perdendo o controlo, mas a impaciência, essa, não será capaz de a evitar e de a esconder.
Segue-se que Cavaco Silva foi dez anos primeiro-ministro, conhece o país ao detalhe e sabe da governação como ninguém. Para mais, viveu essa sua longa experiência de governante com íntegro sentido de Estado, o que ainda mais lucidez confere ao seu discernimento sobre as situações de governação que hoje tem de acompanhar.
Por outro lado, Cavaco Silva é indomavelmente pragmático, orienta-se por resultados, quer resultados, e tem, como componente desse pragmatismo, uma noção muito própria daquilo que é politicamente possivel a um governo fazer e aquli que, ainda que desejável, não é politicamente possivel exigir a um governo que faça.
Finalmente, Cavaco Silva não dá passos por mera espontaneidade, antes pondera com enorme cautela o que quer fazer e os efeitos que pretende obter com os seus actos e palavras.
É neste contexto que deve ser entendido o seu recente apoio ao Governo.
Na entrvista polémica a Maria João Avillez, Cavaco Silva, por exemplo, não negligenciou ou não se esqueceu da politica internacional. Não, seguramente equacionou a questão e optou por não desviar atenções para esse assunto. Cavaco Silva quis deixar uma mensagem forte em termos de politica interna, quis, como tantas vezes o vimos fazer quendo era primeiro-ministro, concentrar e focar os portugueses naquilo que ele considera ser o objectivo prioritário.
Cavaco Silva não tem o fascínio de ser interessante, vai mesmo mais longe, empobrece o discurso politico, conscientemente, se nisso vir necessidade.
No seu discernimento pragmático, este Governo não só está a fazer reformas, como as reformas que é possível fazer, ou, pelo menos, as reformas que são exigíveis que um governo socialista faça.
Se bem conheço o Presidente, a sua leitura é a que há uma boa oportunidade e ele tudo deve fazer para levar ao limite os efeitos positivos que a oportunidade encerra.
Ao apoiar o Governo e ao querer, sem que haja confusão, que os portugueses percebam isso, Cavaco Silva está a"espremer o limão" desta oportunidade politica.
Não anda longe do que fariam os empreendedores: este Governo pode fazer mais, melhor e diferente, é verdade, mas o essencial é dar-lhe condições para que faça o máximo que está ao seu alcance fazer.
As coisas são o que são.»

António Pinto Leite
Expresso-8.12


crisdovale

4 Comments:

At 8:04 da tarde, Anonymous Anónimo said...

A serena justeza do exame das coisas. Quando APL acerta, e acerta muitas vezes, fá-lo como ninguém.
jmn

 
At 10:34 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Percebi...

 
At 2:37 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Eu adorava saber o que pensa o Presidente dos Governos do PS de António Guterres.
Mas, já não como Presidente, só como cidadão, a ver que «Economia de Regime» faz, de um rumo e do seu desmentido, bem na frente dos destroços de largos milhares de famílias e da rectroactividade das leis que se vão fazendo ... deve ser saborosa essa «Economia de Regime» ...

 
At 5:16 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O que CS pensa desse período trágico da vida nacional está cristalino no artigo que escreveu antes das eleições autarquicas (apos as quais o invertebrado politico fugiu) que passou à História como o do pedido da VASSOURADA, a que o povo correspondeu.
jmn

 

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