A roda da fortuna
"Quem sabe se a roda da fortuna, que já há tanto tempo, em voltas sucessivas, parece insistir em girar contra nós, quem sabe, digo, se neste momento quererá voltar em sentido contrário"
«Para mim a crise, sob a qual nós vergamos, tem de ser encarada sob três aspectos.
O primeiro é o desequilíbrio orçamental; o segundo é a circulação fiduciária; e o terceiro é o desequilíbrio capitalista ou económico, como se quiser chamar, quero dizer, a diferença entre o ingresso e as saídas, quer de mercadorias, quer de capitais.
Ora, invertendo a ordem por que enumerei estes três elementos, começarei pelo último.
Não cansarei a câmara reproduzindo algarismos que todos conhecem, e fazendo considerações que hoje, felizmente, estão no espírito de todos e que é deplorável que o não estivessem há muito tempo; porque o facto é que, desde longos anos, nós vivemos uma vida completamente artificial, abandonando as fontes da riqueza natural do pais.
Nós chegámos a este estado, verdadeiramente anormal, de consumir exclusivamente produtos estrangeiros e de trabalhar exclusivamente com capitais estrangeiros; de nos dessangrarmos anualmente com o serviço desses capitais e com o preço desses produtos!
Assim vivíamos efectivamente e assim vivemos durante largos anos, se o espaço de meio século, pouco mais ou menos, se pode chamar largos anos; mas vivemos como?
Vivemos exagerando a soma da dívida pública até às proporções verdadeiramente esmagadoras em que hoje se encontra.
(...)
O equilíbrio orçamental não se obterá senão à custa de uni sacrifício feroz, permita-se-me a expressão, que tem ele abranger todos os funcionários, credores do estado, proprietários e industriais.
Só assim é que o movimento pôde ser nacional e o sacrifício corresponder ás exigências da situação e do país.
Este sacrifício tem de abranger empregados civis e militares, há-de abranger todos, absolutamente todos em igualdade de condições. O governo não veia aqui para estabelecer guerra de classes, veio, em nome da salvação pública, para pedir a todas as classes do país um concurso de esforços enérgicos para ver se conseguimos salvar a nossa terra da situação deplorável a que a levaram.»
Discurso de Joaquim Pedro Oliveira Martins em 20 de Janeiro de 1892.
(Ministro das Finanças no governo presidido por Dias Ferreira, apresentou o programa financeiro do novo governo)
(Portal da História
Manuel Amaral )
bvta
1 Comments:
A república "coroada" ... o mesmo problema de há cento e oitenta e seis anos. Mais "palmo" menos "palmo".
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