"O país ficava muito melhor"
«(...) É no controlo dos efeitos negativos das notícias que se percebe melhor a governamentalização. Não é censurando as notícias, mas dando-as "compostas", numa ordem secundária, sem imagens perturbadoras, sem "escândalo", mesmo quando o haja, "equilibradas" com outras notícias, e, muito importante, com atribuição do pódio do comentário às pessoas certas, críticos mas não muito muito, salomónicos, moderados, inócuos. Tudo isto se faz sem qualquer conspiração, ou telefonema directo, ou instrução ou ordem, mas em primeiro lugar pela escolha para os lugares-chaves de pessoas confiáveis, simpatizantes do governo, ou pelo menos, de gente incapaz de ser activamente crítica e muito menos hostil. Escolhidas as pessoas, está quase todo o caminho feito. Convém lembrar que na RTP as cadeias hierárquicas de comando, escolhidas de cima para baixo, vão ter a um ministro, um ministro político por excelência como é o dos Assuntos Parlamentares, e por ele ao governo e ao primeiro-ministro.
(...)
O país ficava muito melhor sem televisão pública, o que inevitavelmente irá acontecer a prazo, com o também inevitável atraso com que fazemos estas coisas, e depois de muitos milhões de euros de dinheiro gastos em vão. Vale sempre a pena repetir que não há nada que a RTP hoje faça, mesmo como instrumento da política externa, que se não possa contratualizar com as privadas, com muito menos custo e muito mais controlo, até porque, tratando-se de concursos públicos, será sempre possível mudar. Pode-se garantir "serviço público" sem televisão pública, sem televisão do Estado e dos governos. Só não se pode garantir a propaganda.»
J. Pacheco Pereira
crisdovale
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