PASTORAL
(obrigado, Augusto Gil)
Saíra Flã António de S. Bento,
Com o nome arrastado pela lama
E a remoer no tom beato e lento
O chato sermão, por que o pântano chama.
Andando, andando sempre, repetia
O intrujo sermão, meloso e brando,
E nem reparou que a tarde esmorecia
Que vinha a noite, plácida baixando…
E andando, andando, viu-se sem ninguém.
Ao lado, só árvores e casas espalhadas.
Mas já estava distante de Belém
Uma légua das fartas, das puxadas.
Surpreendido pela cabecinha vã
E fraco, por tanto haver marchado,
Com a solidez de um pudim flã
Sentou-se a descansar, o desavergonhado.
O luar. O luar claríssimo nasceu.
E num raio dessa linda claridade
Sampaio a Assembleia dissolveu
E o biltre viu segunda oportunidade.
Perto, uma bica de água murmurante,
Juntava o seu murmúrio aos dos pinhais,
Era ele, o infante,
Sócrates: o animal feroz de que vos lembrais.
Aos pulinhos o feroz vinha,
Do ginásio, todo satisfeito
Nunca, daquela cabecinha,
Tinha saído ideia de jeito.
Com força, para que toda a gente visse,
Abraçaram-se. Testemunhas, o país e Deus.
O Sócrates, olhando fundo disse:
Oh, Flã, dá-me um ministro dos teus!
O Flã, erguendo a manga da fatiota
Para tapar a miséria passada,
Mentiu numa voz, doce e idiota:
Não sei que fosse…Eu cá nunca presidi a nada.
E voltando-lhe a carinha contra a luz,
E para aquele amor ainda sem casamento
Pegou-lhe ao colo e acrescentou: Jesus!...
Era tão bom…e os dois olharam para S. Bento…
Venâncio
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