A DERROTA DO APARELHO

O Congresso do PP (CDS?) realizado no último fim-de-semana em Lisboa que culminou com a surpreendente eleição de Ribeiro e Castro foi uma lufada de ar fresco.

Foi uma prova de maturidade de um partido que nunca foi conhecido por ter um "aparelho" com peso como o PSD ou o PS.

Precisamente a ausência de um aparelho preponderante permitiu um desfecho, para muitos, inesperado. Caso contrário, com todas as principais distritais e organização juvenil a apoiar o candidato "do regime", este teria tido vitória garantida.

Talvez mais uns meses no governo e teria sido o suficiente para que "os homens do aparelho" tivessem tomado conta do partido à semelhança do que sucede noutros partidos.

O poder propicia que quem o exerce crie uma teia de fiéis que eliminam qualquer foco de discordância. É por isso que nos partidos com vocação tradicional de poder existem "aparelhos" que dominam todo o partido.

Desta vez o PP (CDS) resistiu. Apenas porque o tempo não foi suficiente.

Ribeiro e Castro aparece no congresso (como ele próprio afirmou) sem tropas, livre, sem condicionamentos. Precisamente o contrário de Telmo Correia, com todo o peso do aparelho, com todos os condicionamentos, vergado com todo esse lastro.

Os centristas gostaram desta postura mais livre, mais solta e, talvez por isso, mais convicta.

E depois um pormenor - as moções (cujo resultado foi determinante para a vitória de Ribeiro e Castro) foram votadas de modo secreto ao contrário do que estava inicialmente previsto. esta alteração permitida no próprio congresso permitiu total liberdade para que os congressistas votassem sem constrangimentos, de modo convicto.

Por isto, este congresso foi também a derrota do aparelho e do PP para que o CDS reaparecesse.

Foi a derrota do princípio de um perigoso e perverso aparelho que se instala nos partidos de poder.



Manuel S. Carneiro