A ESQUERDA UNIDA EM LISBOA

Os estados-maiores do PS e do PCP reuniram-se na terça-feira para dar início às negociações com vista à coligação autárquica em Lisboa.

Com Sócrates e Jerónimo de Sousa a apadrinhar logo no início esta coligação, regista-se que o interesse é tal que são as estruturas máximas a conduzir o processo, relegando para um papel acessório as estruturas locais que deveriam protagonizar esta questão.

Para o PCP, a coligação com os socialistas significa a única via para recuperar o poder na câmara de Lisboa. Deste modo, comunistas recuperam uma máquina poderosa para sustentar a sua sobrevivência e o veículo para aspirar a ser também parceiro do PS no plano nacional.

Para o PS, esta coligação, conseguindo reunir todas as forças de esquerda (com relevo para o Bloco de Esquerda), significa um passo fundamental para ensaiar a possibilidade de, no futuro, no plano nacional, repetir este entendimento.

Demonstrado que está que esta coligação e uma eventual vitória em Lisboa são elementos exclusivamente instrumentais, torna-se evidente que a alegada dificuldade de entendimento nesta primeira reunião não se relaciona com questões programáticas mas antes com questões mais prosaicas como o equilíbrio de forças.

A situação de partida desta coligação é a seguinte: o PS e o PCP mantinham, que nas juntas de freguesia, quer nos candidatos a vereadores, total paridade. Era uma relação de um para um. Foi assim em 1989 – a primeira vitória com Jorge Sampaio, até 2001 – a derrota com João Soares.

No presente, especialmente após as últimas eleições legislativas, a realidade eleitoras veio demonstrar que a relação de forças na esquerda evoluiu. De tal modo é diferente que o PS é significativamente mais forte que as demais forças de esquerda e, mais complicado, o Bloco de Esquerda alcançou um resultado superior ao do PCP.

Com este quadro de forças é o PCP que mais perderá face a anteriores coligações, caso o último resultado eleitoral seja considerado. Esta fragilidade interessa ao PS que poderá impor-se como partido dominante e interessa ao Bloco pois coloca-o numa posição mais importante que o PCP. Ora para os comunistas é inaceitável esta relação de forças.

Veremos portanto, nas próximas semanas, vários encontros entre os parceiros da esquerda, sempre afirmando que estão a aproximar posições quanto a programas, sendo que, na verdade, estarão a tratar de contas…


Manuel S. Carneiro