17.9.05

ESPERTEZA SALOIA






O Valor da Ingenuidade

"O maior perigo que corre o ingénuo: o de querer ser esperto.
Tão ingénuo que cuida, coitado, de que alguma vez no mundo o conhecimento valeu mais do que a ingenuidade de cada um. A ingenuidade é o legítimo segredo de cada qual, é a sua verdadeira idade, é o seu próprio sentimento livre, é a alma do nosso corpo, é a própria luz de toda a nossa resistência moral.

Mas os ingénuos são os primeiros que ignoram a força criadora da ingenuidade, e na ânsia de crescer compram vantagens imediatas ao preço da sua própria ingenuidade.
Raríssimos foram e são os ingénuos que se comprometeram um dia para consigo próprios a não competir neste mundo senão consigo mesmos. A grande maioria dos ingénuos desanima logo de entrada e prefere tricher no jogo de honra, do mérito e do valor. São eles as próprias vítimas de si mesmos, os suicidas dos seus legítimos poetas, os grotescos espantalhos da sua própria esperteza saloia.

Bem haja o povo que encontrou para o seu idioma esta denunciante expressão da pessoa que é vítima de si mesma: a esperteza saloia.

A esperteza saloia representa bem a lição que sofre aquele que não confiou afinal em si mesmo, que desconfiou de si próprio, que se permitiu servir de malícia, a qual como toda a espécie de malícia não perdoa exactamente ao próprio que a foi buscar.

Em português a malícia diz-se exactamente por estas palavras: esperteza saloia.

Parecendo tão insignificante, a malícia contudo fere a individualidade humana no mais profundo da integridade do próprio que a usa, porque o distrai da dignidade e da atenção que ele se deve a si mesmo, distrai-o do seu próprio caso pessoal, da sua simpatia ou repulsa, da sua bondade ou da sua maldade, legítimas ambas no seu segredo emocional.

Porque na ingenuidade tudo é de ordem emocional. Tudo. O que não acontece com as outras espécies de conhecimento onde tudo é de ordem intelectual. Na ordem intelectual é possível reatar um caminho que se rompeu. Na ordem emocional, uma vez roto o caminho, já nunca mais se encontrará sequer aquela ponta por onde se rompeu.

O conhecimento é exclusivamente de ordem emocional, embora também lhe sirvam todas as pontas da meada intelectual. "



Almada Negreiros
Ensaios




brventana

5 Comments:

At 1:44 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Brilhante o Almada Negreiros - e que lição tão actual sobre a Esperteza Saloia!


francisco alvarez

 
At 11:16 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Pura e simplesmente espectacular

 
At 12:18 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Em Portugal do século XXI, espertos temos muitos (alguns até já são milionários) e saloios temos ainda mais (muitos já foram governantes e tudo). Façam agora o favor de ver em que sarilhos os pobres ciadadãos deste país estão metidos!
Rute de São josé

 
At 12:24 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Mas isto será mesmo sina, ou já estará no patamar de fado?
Estou farto de me rebelar contra calúnias, em especialquando estão em causa amigos.
Temos que acabar com lamúrias.
Luís Preto de Morais

 
At 2:28 da tarde, Anonymous Anónimo said...

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