25.9.05

VIAGENS NA MINHA TERRA

Viajando pelos interiores da nossa terra, descortinando um saudável confronto desta com a exigência, na companhia de Antonio Pinto Leite (expresso-24.9):



Em termos genéricos, pode dizer-se que Portugal tem medo da exigência e da autoridade, não porque receie perder a liberdade, mas porque receia perder aquilo que muitos portugueses confundem com liberdade que é o seu espaço de manobra.
Muitos portugueses gostam de se sentir à vontade, numa dinâmica social de compromissos, favores recíprocos e desculpas sucessivas, numa dinâmica social com objectivos individuais e colectivos suficientemente difusos de modo a que a responsabilização não seja possível ou, pelo menos, não acarrete consequências penalizantes.
(...)
Este espírito existe, esta mentalidade tem raízes profundas, mesmo nas empresas, e é esta mentalidade que, este medo de existir, na expressão de José Gil, que será confrontada caso a escolha presidencial possa vir a incidir em Cavaco Silva.
(...)
O que será interessante no hipotético exercício presidencial de Cavaco Silva é o facto de todo este subir da parada de exigência, no sistema político e no país em geral, não ter de ser feito à custa do derrube de governos com apoio parlamentar, solução a que imprudentemente recorreu Sampaio, ou através de técnicas de intriga e de desgaste político a que, impunemente, recorreu Soares no segundo mandato, com o mero objectivo, com motivação egocêntrica, de destruir um rival politico e histórico (Cavaco Silva).

Não, o interessante ( e mais estimulante) é perceber que Cavaco Silva tem condições únicas, pelo seu carisma e pelo prestígio e empatias muito peculiares que o cargo de Presidente conferem, de exercer influência na sociedade portuguesa através do poder da palavra (ou do silêncio) e do poder moderador ou de influência junto dos governos e das instituições em geral. Se eleito Presidente, Cavaco Silva teria tanto espaço simbólico, que a sua acção poderia ser feita, nuclearmente, através de sinais, num exercício que até hoje não teria tido precedente equiparável.

Não tenho dúvidas que se Cavaco Silva avançar – e ele é, hoje, a única personalidade política relativamente à qual existe uma silenciosa vaga de fundo na sociedade portuguesa – terá uma ideia claríssima e perceptível do modo de exercer a presidência e, em pouco tempo, todos perceberão o que pretende.


Se bem o conheço, politica e pessoalmente, com a sua formação britânica e a sua paixão pela estabilidade, não proporia qualquer ruptura constitucional. Todavia, também não fingiria que é um tipo porreiro e pachorrento e que seria um presidente porreiro e pachorrento, como não fingiria que é um politico gongórico e hesitante, porque não seria nada disso. Nem papão, nem pai tirano, nem porreirismo."




brunoventana

1 Comments:

At 12:36 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Não está mal observado.
Vamos esperar que asim possa vir a ser.
Se não for isso, e mesmo assim, o futuro é a descair...

 

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