O HOMEM TRANQUILO

"Os portugueses comparam o que ele fez com o que outros fizeram.

É claro que comparam também os níveis de progresso e de desenvolvimento trazidos pela sua governação com o descalabro, o mal-estar e a penúria que se lhe seguiram. Mas, no tocante à credibilidade, essa nota tem mais desenvolvimentos.

Ao longo dos últimos dez anos, Cavaco Silva pronunciou-se sobre as grandes emergências da nossa vida colectiva com a autoridade que lhe davam o prestígio pessoal, a experiência política e a qualificação profissional.

Chamou a atenção para o que estava a acontecer e não houve caso nenhum em que não tivesse tido carradas de razão ou em que, sequer, tivesse exagerado.

Os portugueses comparam o que ele disse com o que os sucessivos responsáveis políticos foram dizendo.

Vêem que foram advertidos no momento certo por alguém que sabia do que estava a falar e hoje perguntam-se como foi possível que ele não tivesse sido ouvido a tempo e horas.

A credibilidade de Cavaco Silva assenta também na sobriedade e parcimónia com que o fez, na franqueza e na clareza com que abordou os problemas, e ainda no distanciamento que assumiu em relação às várias forças políticas.

Nunca disse o que a estas convinha, mas o que convinha a Portugal.

Não fez arengas politiqueiras e não fez discursos tecnocráticos.

Teve sempre a preocupação de acentuar a indispensabilidade da educação e da cultura, da qualificação e da inovação, de par com as da justiça social e da solidariedade.

Quem é tão independente quanto credível só pode inspirar e incutir confiança num contexto angustiado como aquele em que vivemos.

Os portugueses sabem que Cavaco Silva acredita profundamente naquilo que diz. Não quer ser visto como um Messias a inaugurar um futuro radiante, nem como um vendedor de receitas e de ilusões milagrosas.

Ponderou as dificuldades e as possibilidades. Não se intimidou com aquelas e sabe que estas podem ser viradas a nosso favor.

Os portugueses sabem que Cavaco Silva é um português como eles e vive os problemas que eles vivem. Reconhecem nele um conjunto de qualidades especiais: é sóbrio, racional, qualificado, experiente, competente, isento, tenaz e decidido, e garante-lhes estar disposto a trabalhar incansavelmente, como aliás sempre trabalhou ao longo da vida, e a dar o seu melhor para que eles também possam trabalhar.

Os portugueses afinal querem uma coisa muito simples: querem poder trabalhar! Sentem que esta é finalmente uma grande oportunidade. E sabem que, além de grande, esta oportunidade é única.

Uma relação de confiança é bilateral. Os portugueses sabem que Cavaco Silva confia neles exigentemente. Que espera que eles saibam corresponder ao seu próprio esforço. E que o seu optimismo reside em grande parte na certeza de verificação dessa expectativa. Os portugueses estão prontos a responder no mesmo comprimento de onda, contra ventos e marés.

Enfim, num país crispado pela inquietação, pelas dificuldades e pelo desânimo, Cavaco Silva sur- ge como uma afirmação de tranquilidade responsável e é capaz de transmitir essa sensação.

Transmite-a pela sua imagem de seriedade e competência e porque não escamoteia as dificuldades, nem promete passes de mágica.

Transmite-a, porque enfrentar as dificuldades e procurar afincadamente soluções para elas é uma atitude que corresponde à sua própria maneira de ser.

Transmite-a, porque toda a gente sabe que ele reflectiu longamente sobre se poderia dar algum contributo pessoal e positivo para alteração do presente estado de coisas.

Foi por ter concluído por uma resposta afirmativa a essa questão que ele tomou a decisão de se candidatar.

E toda a gente sabe que foi mesmo assim. Por ter feito um juízo de valor sobre esse contributo que está ao seu alcance e não por uma qualquer apetência de poder, de notoriedade ou de profissionalização política.

Cavaco Silva transmite ainda essa sensação de plena tranquilidade pela afirmação de independência com que se apresenta.

Toda a gente sabe que ele não está disposto a fazer fretes políticos ou ideológicos, por táctica ou por estratégia.

Frisou bem que a sua candidatura era o acto de um homem livre e descomprometido. A sua tranquilidade faz parte desse estatuto.

E se há quem se agarre ainda à demagogia em desespero de causa, é porque já toda a gente percebeu que é muito difícil argumentar decentemente contra um homem tranquilo."


vasco graça moura
(DN-25.10)



lbravo