20.10.05

A REVISÃO

"Aquele que não quer passar depois de ter passado, ainda ouvirá palmas, mas já não são palmas, são despedidas e não despedidas com saudades mas com ironias. As palmas são para o tempo, para que seja contente e caminhe mais rápido, para que mais depressa o leve.”
Manuel Rodrigues
(O Século-Dez.1938)



Ivan Nunes deu de si. A revisãosurgiu:

“ (...) Mas há também questões sérias, blogs que recordam o meu histórico, o meu ancestral anti-soarismo, em particular reflectido num texto que escrevi em 1995 e em que criticava Soares com muita violência, por ocasião do seu encontro com Craxi na Tunísia. Nessa altura , Soares interrompeu uma visita de Estado para cumprimentar Bettino Craxi, antigo primeiro-ministro socialista italiano, à época foragido à justiça do seu país, e entretanto falecido. E o texto que nessa ocasião escrevi no Público foi porventura dos mais severamente críticos para Soares que apareceram na imprensa portuguesa.
(...)
Evidentemente, continuo a achar que Soares não devia ter feito o que fez naquela ocasião. Mais do que isso, continuo a achar que isso só foi possível na medida em que Soares tinha adquirido nos anos 1990 um estatuto de quase impunidade, uma condição de pai-da-pátria, dono-da-república, que quase o punha acima de qualquer crítica. Esse estatuto era pernicioso, era doentio - e, no entanto, quem não se lembrar dele não pode hoje imaginá-lo, olhando para a imprensa portuguesa dos dias que correm. Bastantes soaristas de então estão hoje na primeira fila do cavaquismo. “

Apesar de pouco espontânea, a revisão tem os seus méritos:

não arrenega “o texto de 1995”, embora lhe resguarde a lâmina da sua acutilância desassombrada (será modéstia ?), e, por outro lado, reconhece, tranquilamente, o estatuto de “quase” impunidade do “pai da pátria” e do “dono da república”, que foi o pano de fundo do soarismo.

Todavia, a explicação da pirueta, essa é frouxa.

O seu candidato “não corre por um conjunto de valores e convicções”. Aliás a frase, no caso em apreço, de tão desligada da realidade das coisas, é quase indecorosa.

O candidato corre, como é cada vez mais perceptível, por uma desgraçada palco-dependência, por um egocentrismo malsão e por um velho ciúme histórico que o acossou na ressaca das eleições legislativas de 1991, e em relação ao qual sofreu brutal recaída no passado Verão.
Isto, usando e abusando de amigos e inimigos, e pouco ou nada se ralando com o PS, Sócrates ou a modernidade da Pátria.
Só que, naturalmente embutido pelos anos, as habilidades já não lhe saem com a fluidez de outras décadas, e fica mais à vista o cavername da personagem.
O espectáculo, pode crer, não vai ser agradável.

Por outro lado, a sua presença no bonito combate que agora encetou pela candidatura “da lufada de ar fresco”, como com extrema felicidade lhe chamou Vítor Ramalho, deve-se simples e prosaicamente à aversão, no seu caso certamente saudável, que nutre por Cavaco Silva.

É tão simples quanto isto.


ps- Se não fôr pela modéstia, acredite que o "texto de 1995", um dos mais galhardos e brilhantes daquela época difícil, merece ser reproduzido.



cristovaodovale

2 Comments:

At 1:17 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Nem mais nem menos. É isto mesmo.

rui vieira

 
At 1:55 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Calhava bem ver o tal texto- se é assim tão galhardo - que muita gente não terá presente...

raul pimenta

 

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