1.11.05

QUE LHE SERVE DE IMPULSO

"Como é próprio do animal que Aristóteles chamava político, isto é, que vai sempre tratando de si, ruminava em coisas e loisas."
Aquilino Ribeiro




O candidato exclusivo do aparelho do PS, Mario Soares, em cada penosa intervenção que se sucede a uma desastrada aparição, que, por sua vez, foi antecedida de uma tirada falhada ou de uma triste pirueta ou de uma gafe patética, o que faz é atolar-se mais e sempre mais no lodaçal da tolice jactante que lhe serve, desgraçadamente, de impulso.

Isto, porque, entre outras coisas:

“O homem que passou é aquele que desempenhou a sua missão, que a desempenhou bem ou mal, não importa, e já não pode desempenhar outra nem prosseguir a que assumira.
Se é orador, a sua palavra jamais será escutada; (...) se é politico, as multidões não lhe obedecerão; e nunca mais o seu braço será procurado, nem o seu conselho pedido (...).
O homem que passou é o homem que já não conta, o homem com quem o tempo não conta por lhe faltar a chama interior do entusiasmo ou o favor da opinião, estas duas energias sem as quais não é possível realizar uma obra ou prosseguir um destino.
(...) O que até então fora louvado será diminuído, o que fez de bom será atribuído aos outros, e se lhe mantêm a autoria logo desviam o objectivo; e onde houve o propósito de fazer por bem, logo dirão que fez por mal, onde houve o maior desinteresse, logo lhe assinalarão o maior proveito.
O homem que passou é como o ano que passa. No momento mesmo em que corta a meta da eternidade, o ano que passou é mal querido e insultado. Começam a insultá-lo aqueles a que não serviu, ainda que não tenha servido com razão; depois os indiferentes; e, atraídos pelo clamor, até aqueles mesmo a que encheu de benemerências.
(...) Aquele que não quer passar depois de ter passado, ainda ouvirá palmas, mas já não são palmas, são despedidas e não despedidas com saudades mas com ironias. As palmas são para o tempo, para que seja contente e caminhe mais rápido, para que mais depressa o leve.”

Manuel Rodrigues
(O Seculo-Dez.1938,citado por Helena Matos,Publico-24.9)



cristovaodovale

2 Comments:

At 6:27 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Saber abandonar o palco, dificil arte e que ainda por cima define, sem apelo nem agravo,os verdadeiros senhores...

duarte domingues

 
At 2:50 da manhã, Anonymous Anónimo said...

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