21.12.05

Ajustes

Parece que o dr. Soares se distinguiu ontem pela má-criação. Deu caneladas, atirou cascas de bananas, tratou o adversário por "ele", fez-se passar por professor, trouxe à baila as opiniões que os seus amigos europeus lhe fizeram chegar a Belém sobre a falta de mundo do primeiro-ministro de então e, não contente com isto, ainda disse que o prof. Cavaco Silva não tinha conversa, feitio, leituras, passado político e cultura humanista para se candidatar ao mais alto cargo da Nação. Compreende-se a justa indignação que este tipo de comportamento suscitou nalgumas sensibilidades mais finas. Não é em vão que um candidato perde a chamada pose de Estado. Portugal gosta da solenidade oca de um "Pacheco" (não o do Abrupto mas o da "Correspondência de Fradique Mendes"), das campanhas "pela positiva" em que se ignora o adversário e se desfraldam piedosas banalidades, de vencedores antecipados, de discursos virados para o futuro (seja o que for que isso queira dizer), de falsos consensos e de promessas vagas que - por uma questão de boas maneiras, presume-se - não devem ser sequer questionadas, muito menos num debate entre dois adversários que se estimam. Portugal gosta principalmente do doce sabor a victória que se adivinha nas sondagens e na verve dos comentadores. E gosta destes pequenos ajustes de contas com a história em que o herói de ontem se transforma, de repente, num reles e insólito sobrevivente que se deve (e pode) finalmente desprezar. O "pai da pátria" perdeu a pátria? Talvez...Mas o que é importante é o gozo imenso que isso nos dá.
ccs

3 Comments:

At 8:48 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Muito bem! Ao contrário de muitas citações correntes demais na "Casinha", textos próprios!

Uma aquisição de grande nível! Sou fã da ccs!

 
At 10:31 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Salvem o mito! Salvem o mito!
RR

 
At 10:34 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Soares antecipa a imagem que, mais cedo ou mais tarde a história iria revelar.

Helder Manhoso

 

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