29.12.05

Repescado...depois de um artigo de Prado Coelho

Parece que o dr. Soares, no debate com Cavaco Silva, se distinguiu pela má-criação. Deu caneladas, tratou o adversário por "ele", trouxe à baila as opiniões que os seus amigos europeus lhe fizeram chegar a Belém sobre a falta de mundo do primeiro-ministro de então e, não contente com isto, ainda disse que o prof. Cavaco não tinha conversa, feitio, leituras, passado político e cultura humanista para se candidatar ao mais alto cargo da Nação. Compreende-se a justa indignação que este tipo de comportamento suscitou nalgumas sensibilidades mais finas. Não é em vão que um candidato perde a chamada pose de Estado. Portugal gosta da solenidade oca de um "Pacheco" (da "Correspondência de Fradique Mendes"), das campanhas "pela positiva" em que se ignora o adversário e se desfraldam piedosas banalidades, de vencedores antecipados, de discursos virados para o futuro (seja o que for que isso queira dizer), de falsos consensos e de promessas vagas que – por uma questão de boas maneiras, presume-se - não devem ser questionadas. Portugal gosta principalmente do doce sabor a vitória que se adivinha nas sondagens e na verve dos comentadores. E gosta destes pequenos ajustes de contas com a história em que o herói de ontem se transforma, de repente, num desprezível sobrevivente que qualquer idiota se sente no direito insultar. O "pai da Pátria" perdeu a Pátria? Talvez...Mas, mais relevante ainda, é o gozo imenso que isso anda por aí a dar.
ccs

8 Comments:

At 12:14 da tarde, Blogger El Ranys said...

"Portugal gosta..."?!?
Quer especificar exactamente de que "Portugal" fala?
É que eu, por exemplo, que também sou "Portugal", não gosto. O O'Neill, que era um "Portugal" ainda maior, também não gostava.
A senhora parece que também não gosta...
Que "Portugal" é esse de que fala?

 
At 12:51 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Especificando melhor, e pegando nas suas palavras, falo do Portugal do O'Neill, do Portugal "engravatado" que tanto preza o "respeitinho".

 
At 1:56 da tarde, Blogger El Ranys said...

Obrigado por responder.
A questão que lhe coloco, então, é a seguinte:
Estará o "herói de ontem" numa redoma que o torne inatacável? (até mesmo por idiotas que vão perdendo o "respeitinho"?).
Peço desculpa por insistir, mas face ao seu esclarecimento, será demasiada ousadia minha apontar uma certa contradição neste post?

Vou-lhe dizer o que realmente me preocupa, como "Portugal" de 36 anos: preocupa-me que "Portugal" seja um contante saco de pancada, tenha costas muito largas e seja o permanente bode espiatório. Já o é assim, pelo menos desde a "piolheira" de D. Carlos e os clarividentes escritos de Eça de Queirós. E tudo isso fez escola e deixou importante legado nos "fazedores de opinião". O problema não é "Portugal". Nada existe de errado com a "genética portuguesa". O problema são os homens que, a cada momento, fazem a nossa história. Por muito que respeite a história de Mário Soares, não consigo deixar de o criticar na actual campanha, no momento presente. Mesmo correndo o risco de ser tomado por idiota.

Acredite que não me dá gozo nenhum. Pelo contrário, até me entristece. Mas entristece-me ainda mais ver "Portugal" a pagar as favas...
Se quiser dar nomes aos "idiotas", talvez preste um melhor serviço. Estou certo de que "Portugal" agradecerá.

Melhores cumprimentos.

 
At 4:35 da tarde, Anonymous Anónimo said...

ainda bem que me obriga a esclarecer esse ponto. Quando falo de "idiotas" não me estou a referir, obviamente, a todos os que legítimamente e em muitos casos com razão (pelo menos é essa a minha opinião) criticam a candidatura de Mário Soares. Nem Mário Soares é intocável nem a campanha que tem feito se presta a muitos elogios. Mas, não tenho grandes dúvidas, de que se os resultados das sondagens fossem outros, Mário Soares não seria, como neste momento, é, o bombo da festa de quase todos os comentadores. Nomes? Veja o título do post, por exemplo, e a forma como alguns apoiam Manuel Alegre para mais facilmente chegarem depois a Cavaco Silva quando este já estiver em Belém. Peço desculpa se o ofendi a si ou a qualquer outra pessoa que tem com certeza o direito de criticar Mário Soares. Não era essa a minha intenção.

 
At 5:11 da tarde, Blogger El Ranys said...

Claro, "silly me"...
Desculpe, mas vi o título do post e depois embrenhei-me de tal forma na leitura do texto que me esqueci completamente do EPC.
Em absoluto acordo.
Não me senti de todo ofendido (embora, depois de reler o meu comentário, admita que assim o possa parecer).
No fundo, e ainda para mais depois deste último esclarecimento, estou de acordo consigo no essencial.
Só que esta coisa do "Portugal" já há muito que me vem irritando e, no fundo, acabo por reagir com mais veemência do que a apropriada quando deparo - sobretudo pela "pena" de pessoas que tenho em elevada consideração, como é o seu caso - com esse genérico fatalismo.

Mais uma vez agradeço a simpatia e disponibilidade demontradas nas suas respostas.

Óptimas entradas em 2006 a todos os mebros do "Minha Rica Casinha".

 
At 1:52 da manhã, Anonymous Anónimo said...

É nítido que este poste está cheio de ironia fina.
"el ranys" não deve ter percebido nada!
Sinceramente é o que se chama atirar pérolas a porcos, com o respeito que cada um merece.

 
At 2:55 da manhã, Blogger El Ranys said...

É nítido que o "joyce" é um grande hermeneuta. Merece umas bolotas.

 
At 3:59 da tarde, Anonymous Anónimo said...

el ranys,

Obrigado pelo elogio.
Há quem mencione que também seja exegeta.
Do meu montado, acaso a legislação o permitisse, seria com com todo o gosto que faria chegar à sua lareira uns toros de azinho...

 

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