A VAZÃO

"Aquele que não quer passar depois de ter passado, ainda ouvirá palmas, mas já não são palmas, são despedidas e não despedidas com saudades mas com ironias. As palmas são para o tempo, para que seja contente e caminhe mais rápido, para que mais depressa o leve.”
Manuel Rodrigues
(O Século-Dez.1938)



Do precoce epitáfio, na capa do "novo Expresso", passando por melopeias que asseveram que a derrota, "talvez irritante", "não é humilhante", até ao brado agudo do próprio, a avisar que a pátria caminha para o "desastre", deixando, ainda assim, "uma sementeira de ideias", tudo já faz parte da baixa-mar, da saída.
Da vazão.
E, apesar de piedosas decorações, o episódio e o seu resultado são humilhantes.
Não pelo eventual peso dos números: uma derrota, mesmo das grandes, no campo aberto da democracia pode ser, e normalmente é, honrosa.
Mas, se nasce da estultícia de um capricho egocêntrico, se é a um obsessivo apego ao palco e a um ciúme malsão que vai buscar razão, e se é o acinte, a falta de aprumo, o desprezo pelas mais elementares regras de fair-play e a desconsideração por todos (e por si próprio) que a sustentam, até a própria vitória seria humilhante.

É certo que há espíritos, e de qualidade, que lhe acham alguma graça.
Mas, isso, é uma outra questão.
Não tem a ver com a Presidência da República.


crsdovale