Mafia, versão em português...

«É sem dúvida um mero aspecto formal que pouco ou nada acrescenta ao essencial do problema - problema que ainda por cima ninguém ignora. Mas é irresistível manifestar a sensação provocada pela leitura dos diálogos que terão sido travados por Va-lentim Loureiro e seu filho com comparsas diversos das trampolinices com árbitros de futebol ontem transcritas pelo DN.
Mesmo sem o "Apito Dourado" (a acabar em pífio assobio, como era de prever?), a situação no meio do futebol não constitui surpresa e é uma evidência que a arbitragem seria inevitavelmente um eixo de um universo em que se movem interesses cuja dimensão talvez nem seja possível avaliar integralmente.
(...)
Mas repararam na linguagem?! "Você sabe que ainda neste defeso você estava não sei o quê e eu, aquilo que posso, pelos amigos faço", "Ele chegou onde pediu", "Con-segue dar-me essa graça e eu responsabilizo-me pela outra", "(...) temos... de atalhar caminho, pá (...) Tu pediste... foi-te concedido" - e etc.!
Estes diálogos que envolvem ameaças ("da próxima vez porta-se melhor, senão puxo-lhe as orelhas", "eu quero ver o que vai acontecer a esse filho da p..."), mas que sobretudo retratam uma relação de dependência, de corrupta compra de caracteres e comportamentos aparecem aos nossos ouvidos como inteiramente estranhos, originais?
Em rigor, aos ouvidos até talvez: mas já os lemos. E como leitura, este fraseado de transacções escusas, ameaças veladas, subserviências ignóbeis num discurso contido e elusivo parece ipsis verbis retirado das legendas da interminável filmografia norte-americana sobre a Mafia.
Marlon Brando criticando o cangalheiro que lhe pede vingança por jamais ter procurado "a sua amizade", De Niro invocando "o respeito" porque ele será "retribuído", Pacino de palavra curta dizendo, também ele, contidamente ameaçador, "quero ver"...

Agora, versão em português... »

Ruben Carvalho
(DN-7.9)


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