Gestos

«Uma mesa cheia de feijões. O gesto de os juntar num montão único. E o gesto de os separar, um por um, do dito montão. O primeiro gesto é bem mais simples e pede menos tempo que o segundo. Se em vez da mesa fosse um território, em lugar de feijões estariam pessoas. Juntar todas as pessoas num montão único é trabalho menos complicado do que o de personalizar cada uma delas. O primeiro gesto, o de reunir, aunar, tornar uno, todas as pessoas de um mesmo território é o processo da CIVILIZAÇÃO. O segundo gesto, o de personalizar cada ser que pertence a uma civilização é o processo da CULTURA. É mais difícil a passagem da civilização para a cultura do que a formação de civilização. A civilização é um fenómeno colectivo. A cultura é um fenómeno individual. Não há cultura sem civilização, nem civilização que perdure sem cultura.»

Almada Negreiros


Adenda: Correio do leitor

«Verdade. Senão atentemos no jovem e talentoso Rui Tavares (embora historiador, categoria que nem sempre garante o domínio da verdade, mas parece, o que torna perigosa a profissão) ao afirmar no Público:"Estão de parabéns os cientistas..." Verdade. Como também o é o abaixo assinado disfarçante com a cobertura das ciências siociais. História recente, talvez demasiado recente. Mas como dizem os chineses (muito antigos): " Se para conhecer o estado de vigília bastasse sentar-se de cócoras, todas as rãs eram Buda".Por vezes só a dureza de expressão conduz à reflexão. Exercício que permite distinguir entre cultura e civilização, mas também entre lógica e dialética. » LC

crisdovale