O Einstein dizia que era possível

«O lance de Fabrizio Miccoli sobre Ricardo, na segunda parte do Benfica-Beira-Mar, valeu o jogo todo e valeu o preço do bilhete. O italiano recebeu a bola de costas para a baliza, perto da linha de fundo, e fugiu à marcação com uma finta impossível.
Impossível, porquê?
Porque, em rigor, ninguém a consegue descrever.
(…)
- Foi assim, ele pegou na bola e fez uma finta de corpo para a direita…
- Não, para a esquerda…emendou outra testemunha.
- E, sem tirar os pés do chão, voltou-se para a esquerda…
- Primeiro fingiu que foi para o outro lado…
- Não interessa. Foi tudo num metro quadrado de terreno.
- Em meio metro quadrado…
- Rodou sobre si próprio…
- Parecia o Chalana!
- Nisso estamos de acordo!
- Rodou sobre si próprio e apareceu sozinho já na linha de fundo…
- Não me consigo lembrar onde é que ele esteve entre rodar sobre si próprio e aparecer na linha…
- Volatilizou-se e, depois, materializou-se outra vez.
- Isso é impossível.
- O Einstein dizia que era possível.
- Dizia que era possível viajar no tempo.
- Mas foi isso, precisamente, o que aconteceu.
- Se o Einstein dizia, quem somos nós para o contrariar?...
- Portanto, foi assim: ele recebeu a bola, estava de costas, fez uma coisa com o corpo para um lado e depois fez para o outro, nesse preciso momento, abriu os braços e, desapareceu da vista do defesa do Beira-Mar e da vista de todos os espectadores…
- Praticamente, um milagre - Acrescentou outra testemunha …e voltou a aparecer, com a bola dominada, sobre a linha de fundo.
- Perceberam?
É evidente que não perceberam nada. Tiveram de esperar pelos programas tardios da televisão para ver o resumo do jogo e deleitarem-se com o momento.
Depois, quando já todos tinham visto, a conversa passou a ser mais técnica.
- Continuo sem perceber como é que ele fez aquilo…
- Deviam passar o lance em câmara lenta, imagem a imagem.
- Eu fazia um programa inteiro de televisão só com aquele lance. (…)»

Leonor Pinhão
ABola-9.11


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