18.1.07

Gerou-se a floresta



A bolota taluda ficara ali muito quieta, muito bem refastelada em virtude do próprio peso, enterrada que nem pelouro de batalha depois de passarem carros e carretas. Que fazer senão deitar-se a dormir?! Dormiu uma hora ou uma vida inteira, quem sabe?! Um laparoto veio lá de cascos de rolha, rapou a terra, fez um toural, aliviou-se, e ela ficou por baixo, sufocada sem poder respirar, em plena escuridão. Estava no fim do fim? Um belisco, e do seu flanco saiu como uma flecha. Era de luz ou de vida? Era uma fonte ou antes um cântico de ave, de água corrente, de vagem a estalar com o sol (... )? Era tudo isto, encarnado no fogo incomburente que lhe lavrava no flanco, verbo que acabou por irradiar do próprio mistério do seu ser.
Do pinhão, que um pé-de-vento arrancou da pinha-mãe, e da bolota, que a ave deixou cair no solo, repetido o acto mil vezes, gerou-se a floresta.


Aquilino Ribeiro



crisdovale

2 Comments:

At 7:24 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Anda por aí muito laparoto que não entende a floresta, nem nela distingue as árvores.Contudo, querem dar a entender perceber da lavoura.
No fundo, no fundo, o que são é perigosos demagogos.

 
At 4:50 da tarde, Anonymous Anónimo said...

E têm novas soluções, com as quais tentam atestar a estupidez de gerações que da terra tentaram perceber os seus muitos segredos.
Esperamos por eles na proxima curva

 

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