Ilustra bem o ponto

«Não fiquei surpreendido com o resultado da OPA sobre a PT. Desde o seu advento, o liberalismo português foi insolvente. E, como insolvente, dependia da banca, nacional e estrangeira, a quem tinha de pedir os meios de viver. Estado e banca nunca se distinguiram claramente. Os banqueiros governavam o Estado e os políticos governavam a banca.
(...)
Numa economia pobre, a "operação financeira" é o único método seguro de "fazer" dinheiro. Hoje, ainda, com o Estado a gastar, como sempre, mais do que recebe e a família média empenhada até aos cabelos, a banca prospera. E prospera porque o Estado a protege. De quê? Da concorrência, ou seja, do mercado. A "blindagem" da PT ilustra bem o ponto. Sócrates tinha de um lado a Sonae, um grupo criador e produtivo, e do outro uma coligação do Banco Espírito Santo, do financeiro Joe Berardo (a quem já comprara por um preço irrazoável uma colecção de arte medíocre), da Ongoing e de um grupo ad hoc de pequenos accionistas, dirigido por um PSD. Quem escolheu? O ministro Mario Lino pretende que o Estado ficou neutro.
Ficar neutro nesta divisão já é suficientemente mau: é ficar neutro entre uma força independente e com futuro e uma força dependente, presa aos privilégios do cantinho português. Só que a abstenção do Estado e o voto da Caixa Geral de Depósitos, que o Estado controla, significou na prática tomar partido pela "blindagem" e contra a Sonae. Sócrates não se deve agora espantar que ninguém queira pôr um tostão neste seu Portugal tão bem "blindado" ou que o engº Belmiro resolva amanhã procurar mais verdes pastagens.»
Vasco Pulido Valente
(Publico-4.3)


crisdovale