29.5.07

Divide et impera

“A singularidade é um conceito existencial; já a identidade é um conceito de referenciação, de circunscrição da realidade a quadros de referência, quadros estes que podem ser imaginários.”
Guattari




Pelo meio do século XIX assomou à História o sistema de Governo conhecido por transformismo, do lema do político Agostino Depretis, figura de esquerda no Risorgimento e primeiro-ministro italiano por três vezes, para quem governar era "transformar os inimigos em amigos."
Adepto e consagrador dessa teoria no plano internacional foi Henry John Temple, Lord Palmerston, que governava norteado pela divisa divide et impera.
A melhor forma de lidar com as exigências das oposições e adversários, pensava, não era a de resistir a quaisquer concessões, à maneira dum Guizot ou de um Costa Cabral, mas apartar, pela razoabilidade das concessões, os moderados dos radicais.
Não ser rígido e intransigente, mas mostrar abertura e flexibilidade para poder cativar, de entre opositores e descontentes, os que se acomodavam com o possível e o realizável.

O transformismo traduziu-se no ensaio da concretização nos países da Europa do Sul do modelo de equilíbrio político inglês, confinando a luta ao palco parlamentar, sob a liderança de cavalheiros que sabiam ser tolerantes e até, mostrando desprendimento em relação a purezas ideológicas, entrar hoje num governo com os adversários de ontem.

Veja-se o exemplo nacional: entre 1850 e 1890 sucederam-se vinte e dois governos, mas foram chefiados tão só por dez individualidades.
Fontes, “quem todo lo manda”, presidiu a quatro, os famosos Duques de Saldanha, Loulé, e Ávila, bem como o Marquês de Sá da Bandeira a três, cada um, e o Duque da Terceira e Joaquim António de Aguiar a dois, cada um.
Fontes, com doze anos, Loulé com nove e Saldanha com seis, governaram Portugal em vinte e sete desses quarenta anos.
“Em politica e Administração a oportunidade é uma condição essencial”, dizia Serpa Pimentel, fidalgo, poeta romântico, socialista nas ideias, conservador nos meios, e o seu chefe Fontes Pereira de Melo reputava-se um “oportunista”: um homem de ideias avançadas que no entanto nunca as tentava aplicar sem que prudentemente avaliasse a “oportunidade” de o fazer.
Deu-se bem com o princípio, pois foi, com doze anos no total, quem mais tempo em Portugal esteve à frente de Governos saídos de eleições e, até Cavaco Silva o ultrapassar um século depois, quem liderou o Governo de maior duração – 1871 a 1877.

(De Historia de Portugal, V Vol.-Rui Ramos)


crisdovale

7 Comments:

At 2:49 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Há na verdade um nome para tudo !
Sarkosy, com o seu ministro dos negócios estrangeiros, pratica o «transformismo». Pois alevá.

 
At 7:48 da tarde, Anonymous Anónimo said...

E a ministra da justiça, entre outros mais....

 
At 9:35 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Bem vistas as coisas, eu disse bem vistas, é o transformismo que faz avançar o progresso no sentido de modernidade e aperfeiçoamento.

 
At 10:56 da tarde, Anonymous Anónimo said...

É curioso verificar que quem fez andar - de facto e não à volta de baboseiras - o país foram os transformistas Fontes e Cavaco....
(papeis meritorios tb para Rodrigo, Costa Cabral, Joao Franco e Salazar -até àos anos 50- )

 
At 11:15 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Justamente eu ia a dizer isso mesmo, à parte a liberdade de expressão oral e escrita, o Estado Novo - que ironia ! - era absolutamente transformista.
Ele há cada uma ...

 
At 11:58 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Bem, absolutamente transformista, quer-se dizer...

 
At 1:33 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Com a excepção dos comunistas, não cabiam todos na União Nacional ?
ehehe ... estou a ver, cabiam, mas muito "apertadinhos". Uma espécie de transformismo transformado ...

 

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