7.6.07

Subir e descer


«A seta para subir, segue violentamente as forças do arco e do impulso, mas para descer não tem necessidade de braço alheio, a mesma natureza a leva sem violência ao baixo, e quanto mais baixo, tanto mais depressa.
A barquinha posta na veia do rio, com a vela tomada e os remos recolhidos, levada só do ímpeto da corrente como em ombros alheios, tão descansadamente desce, como apressada. Pelo contrário, ao subir pelo mesmo rio acima, seja o vento embora tão forte que quase rebente as velas, e os remeiros tão robustos que quebrem os remos, mais é a água que suam que a que vencem.
Nós mesmos para subir a um monte, é com tanta dificuldade e moléstia, que a própria respiração se cansa e se aperta, mas para descer ao fundo do vale o mesmo peso do corpo o ajuda, aligeira e move; e mais levados que andando, chegamos sem cansar ao lugar mais baixo e último. Tão fácil é o descer, e tão dificultoso o subir.»


Padre António Vieira


crisdovale