AS “NARCISICES” DO “PROFESSORICES”
“Always forgive your enemies. Nothing annoys them so much.”
Oscar Wilde
Por entre o caudal lamacento que povoa a discussão pública digna desse nome, eis que se ergue uma voz inconformada, disposta a trazer luz aos problemas do mundo do ensino em Portugal. É JVC, no seu blog Professorices, a que de resto, o Minha Rica, desde a sua génese, faz publicidade.
O Professorices é um blog interessante, que combina o comentário com o diário do seu autor, numa tentativa de combinar o estilo académico reivindicativo com o traço fino de escritor de pluma. O leitor deleita-se, pois, com as divagações em torno do que é, poderia-devia ser um mundo ideal na Academia com os episódios da vida particular do mestre, a polvilhar a agrura da escrita séria com o saber de parábola.
O Professorices é um exercício de leitura interessante, porque é um retrato de um enraizado espírito que se não ousa assumir: o autoritarismo, sob a falsa capa de uma bonomia intelectual vanguardista.
Num dos seus mais recentes contributos, JVC discorre sobre a autonomia universitária num impressivo documento de uma centena de páginas, em que começa por denunciar “a descoordenada reforma legislativa iniciada pelo Prof. Pedro Lynce”, para acabar com propostas que importa de modelos estrangeiros e cuja radical diferença com as “tais da reforma descoordenada” ficam para o leitor descobrir. É defensor da colegialidade compatibilizada com unipessoalidade e não se assume como incondicional da participação exacerbada dos estudantes.
Para não ferir susceptibilidades, JVC dirige-se aos estudantes que eventualmente estiverem a ler o seu escrito (e como os estudantes são leitores assíduos de escritos sobre a autonomia e modelo de gestão universitário!...), acalmando-os com a sua pitada paternal “Vão continuando a ler com paciência e abertura de espírito.” (frase, que na versão original, principiava vocativando:”Ó meujamigos-jejejeje”.
JVC também cai na armadilha do estrangeirismo. Defende o empreendedorismo, afirmando que as universidades são empreendedoras (entrepeneurial universities), ao melhor estilo let’s look at the traila. Insiste na comparação com os Estados Unidos, o que como exercício retórico é desculpável, mas empiricamente infrutífero, dada a fulcral distinção histórica e tradição de uma cultura universitária europeia que precede em séculos o arguto George Washington.
Independentemente das propostas apresentadas, há que reconhecer que o efeito ricochete mina qualquer reforma, porque independentemente do tipo de órgãos, não pode ser feita uma implosão das universidades. O problema das universidades é tão só um eufemismo para o problema de Portugal, que é intrinsecamente sociológico.
O final do ensaio/monografia, para ser fiel às palavras do Autor, coroa o ensimesmamento do discurso: dirigindo-se aos seus comentadores indefectíveis, presta-lhes uma “homenagem”, agradecendo a possibilidade de, através da comunicação internética, conviver com universitários de grande qualidade, “com ideias convergentes com as minhas”…o esplendor da flexibilidade.
Mas talvez tudo isto seja um pouco cruel para JVC e as suas “conversas-com-pessoas com-as-mesmas-ideias”. É deixá-lo.
Porque, afinal, do que ele gosta é apenas de dizer coisas.
Avalon
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