14.9.04

DE GAULLE E O BOMBEIRO

“Tu não te deites a afogar duma ponte tão baixinha”


Ponta final da corrida ao Rato. Os candidatos, sacudidos, fustigam o desprotegido torrão eleitoral a golpes de enxada.

E, quase diariamente, trazem surpresas.

Em entrevista à SIC Notícias, João Soares, ainda assim mais modesto que Almeida Santos (cuja camaradagem com Cristo é conhecida), foi buscar amparo ao General De Gaulle.

Nem mais.

Podia, no seu afã demonstrativo da excelência da experiência autárquica para os voos governativos, socorrer-se de Valentim Loureiro, Ferreira Torres, Isaltino de Morais, Edite Estrela, Fernando Gomes, da própria Fátima Felgueiras ou mesmo do seu camarada Narciso Miranda. Podia, até, invocar Luís Felipe Menezes, que se declarou preparado para uma qualquer pasta ministerial, ou Santana Lopes, que chegou onde chegou.

Mas não, nada de simplicidades.

Um pouco a montante do desvario, contou ao incrédulo J Adelino Faria, que o General De Gaulle, assim alçado em oráculo da esquerda moderna, é que sabia fiar fino. Passava em apertado crivo os candidatos a governante, murmurando severo: só entram ex-autarcas.

Parece, todavia, que teria havido uma (!) excepção: André Malraux. Aqui, Soares, embevecendo-se com a própria tirada, deixou cair que havíamos de convir que se tratava de uma excepção perdoável… (Sempre era o André).

Temos pois o afoito candidato, que noutros tempos, ardendo o edifício da Câmara, se afivelou de bombeiro para os telejornais, a apoderar-se agora da farda do lendário General para, recortando-se no horizonte, suplantar de vez o engenheiro e o poeta.

Que mais nos trará a versatilidade da criatura?


Bruno v