10.9.04

A TEMPESTADE E A BONANÇA - I

A TEMPESTADE E A BONANÇA - I


“Everything should be made as simple as possible, but not simpler.”
Albert Einstein

(Dedicado a Bruno V)


Em tempos de tanto e augusto alarido sobre a vida e seus dramas, barcos estranhos, delfins traídos, negociatas obscuras, media atrevidos, decidimos denunciar os verdadeiros terroristas que povoam nossas vidas. São aqueles anónimos (ou não?!...) que nos acercam, ora dolosa, ora involuntariamente, e que marcam o ritmo das coisas. São os rostos da tempestade.


Tempestade Nº1 – O Condutor do Lado

Avenida movimentada. Qualquer hora do dia ou da noite. O condutor do lado é sempre o pior pesadelo. Não quer ultrapassar, tem sobrolho franzido e bigodaça imponente. O sinal verde cai. Vive o complexo do siamês e não deixa mudar de faixa. Grunha o tufão:

- Eh pá, ó (irreproduzível)! Mexe-te, ó ….!

Às vezes, o condutor do lado está dentro do carro e é instrutor de condução. Nesse caso, o tufão é:

- Nãaaaaaaaaaaaaaaao! Tou farto de ensinar velhas e nunca vi nada assim!.....

A Bonança: Por uma vez, era bom que o condutor do lado soubesse que há piscas, deixasse sempre ultrapassar e acenasse ternamente com o polegar fosse qual fosse a manobra.


Tempestade Nº 2 – O Caixa do Banco

Manhã atribulada. É mais um pedido de caderneta.

- Bom dia, precisava de uma segunda via da caderneta, sff.
- Outra vez????’
- Perdi a outra.
- Outra vez. E o que é que lhes faz?
- Não sei, por isso é que a perdi e lhe estou a pedir outra.
- Só é possível depois de entregar a caderneta antiga.
- Como? Se eu a perdi?!
- Só coma antiga.
- Não está aperceber. Eu estou sem caderneta.
- Só com a antiga.
- Olhe, eu vou ali levantar dinheiro com o cartão, então.
- Olhe que a máquina não dá moedas…

A Bonança: Por uma vez, gostava que o caixa do banco dissesse: “Bom dia. Aqui tem a sua 2ª via da caderneta que pediu ontem à meia-noite. O Banco acedeu ao seu pedido de crédito sem juros.”


Tempestade Nº 3 – O Funcionário

- Bom dia, precisava de uma informação relativa ao…
- Isso não é comigo, é com…., que está de férias.
- Sim, mas o que eu precisava era de confirmar se…
- Como lhe disse, siso eu não sei.
- Então, já que estou a falar consigo, perguntava-lhe se ..
- Isso não é comigo.
- Mas não pode saber se…
- Nós aqui não temos nada disso.
- Mas eu tenho aqui uma informação sobre isto assinada por si.
- Desculpe, estou de saída.

A Bonança: Por uma vez, gostava de viver a experiência de um telefonema assim:

- Bom dia, precisava de uma informação relativa ao…
- Estou a enviar-lhe já por mail. E o que é que precisa mais?
- Sabe se…
- Tenho aqui, mando-lhe também. Já agora, para ficar completo, vou juntar dois exemplares de… e a proposta de.., que pode ter utilidade. Pode ser ao final da manhã?

Tempestade Nº 4 – O Empregado do restaurante

- Temos orelha, alheira, enguias e lulas. Tudo do melhor.
- Não, queria um bitoque, então.
- Só com salada?
- Não, com batatas e arroz.
- Pra beber, aguinha?
- Não, queria Coca-Cola.
- De sobremesa, temos manga, melão, uvas
- Não há mousse de chocolate?

A BONANÇA: Por uma vez, gostava que o empregado sugerisse:

“Hoje temos sopa de hortelã, e como prato do dia, medalhões de tamboril com molho de menta, acompanhado com arroz de pinhões, batatinhas princesa e salada de agrião. De sobremesa, brownies com calda de chocolate e gelado de pistachio.”


Pensem nisso.


Avalon