17.9.04

PÁTIO DAS CANTIGAS NA ALDEIA DA ROUPA BRANCA

(OU A VERDADE SEGUNDO MATEUS)

“Se a política do nosso país já é pequena como ele, se degenera em desavença de senhoras vizinhas, que fará nas terras pequenas deste país, em que muito acima dos princípios e dos partidos estão os mexericos e as vaidadezinhas que brotam como tortulhos à sombra das árvores do campanário? “
J. Dinis (Morgadinha dos canaviais)


Terça-feira à noite, falando para o seu atento valet de chambre, na SIC- Notícias, Mário Soares deambulou pela actualidade nacional e internacional sem dar azo a que se retivesse grande coisa, quando, de súbito, “agarrou” em José Maria Aznar e, sem mais aquelas, atirou-o pela janela fora.
E, arrumando o assunto, deixou cair de mansinho que até “vigarices” (do tempo do Zé Maria) têm, agora, “aparecido”.

Descontando a costumada elegância, o que se pergunta é onde foi buscar o antigo líder do PS aquela ideia. A que livro, jornal, rádio ou televisão? Como não adiantou nada sobre o assunto, será pois de presumir que pode ter sido a uma roda de amigalhaços, a uma mesa de café, a uma conversa na praia, ou mesmo a um telefonema do Zapatero.

Mas, ao validar-se esse género de informação, apregoando-a, como classificar, por exemplo, aqueles casos, em que alguém intimamente identificado com o assunto que descreve e aprofunda, passa para um livro de 374 páginas (83 páginas de documentos), sistematizado, com factos, datas, locais, contextos e sequências, um encadeamento de situações e atitudes que aponta concretamente enredos e labirintos indecorosos (Rui Mateus, Contos proibidos – Memórias de um PS desconhecido, D. Quixote).

Só pode, certamente, ter validação mais forte.

Escreveu, a propósito desse caso, José Amaro Dionísio no “Expresso” de 5 de Abril de 1996:

“Chamando as coisas pelo seu nome, do que Rui Mateus fala quando fala das memórias de um PS desconhecido é de tráfico de influências, financiamento oculto de partidos, indícios de desvios de fundos públicos, ligações dúbias de titulares de cargos do Estado ao mundo dos negócios, cheques fantasmas, fugas ao fisco, concorrência desleal, favorecimentos, abuso de poder e ingerência de países estrangeiros nos assuntos de Portugal.”

Os visados responderam que nada respondiam.

“Mas, apesar da impunidade terceiro-mundista dos visados, da conivência da classe política, do silêncio da justiça, e da ordem de marcha ao jornalismo de cortina, o que o livro de Mateus traz a público é um xeque ao regime com o qual cedo ou tarde o regime terá de confrontar-se sob pena de putrificar-se no seu branqueamento. Com a História à espreita – e como as tentativas falhadas do estalinismo mostraram, não há culto da personalidade que consiga reescrevê-la.”

“Vigarices” ? do Zé Maria !?!


Cristovao do vale