30.12.04

PAZ

Em cada uma das nossas vidas reside um mistério. Que mistério? Deus está presente no mais íntimo da nossa alma. Sim, Deus habita nas nossas profundezas.

Deus é invisível e nunca se impõe. Mas Deus diz a cada um: «Mesmo que a tua fé seja humilde e frágil, ousa seguir a Cristo; nele o teu coração encontrará vida.»

Sabemo-lo suficientemente? Deus confia de tal maneira em nós, que dirige a cada um de nós um apelo. Durante estes dias passados em Lisboa, gostaríamos de procurar aquilo que Deus espera de nós.

Qual é esse apelo de Deus? É que ele nos convida a amar como ele nos ama. E não existe amor mais profundo do que ir até ao dom de si próprio, por Deus e pelos outros.

Procurando responder a esse apelo, vamos conseguir compreender que o seu Evangelho pode transformar o nosso coração e a nossa vida. O desejo de Deus não é o de nos tornar realmente vivos numa comunhão com ele e com os outros?

Alguns perguntam-se: É possível ser fiel toda a vida a um apelo a seguir Cristo? Ao ler o Evangelho, descobrimos que Deus, ele que nos convida a amar, abre para nós um caminho. Nessa caminhada, Deus faz que não nos detenhamos a meio do caminho e não olhemos para trás.

Mesmo quando nos esquecemos da presença de Deus em nós, ele não nos esquece. Para perseverar durante toda a vida, Deus ajuda-nos sempre a retomar alento. O seu Evangelho contém uma esperança tal que nela podemos sempre reencontrar uma nova vitalidade.

Ao longo de uma vida, surgem frequentemente hesitações e mesmo dúvidas. Podemos então dizer a nós próprios: «Vai em frente! Lembra-te que a inquietação não a nenhum lado».

Ao longo da nossa existência, é possível descobrir no Espírito Santo o frescor do seu apelo. Sempre de novo, Deus gostaria de nos dar uma limpidez de alma que torna tudo simples e transparente.

A quem aspira dar a sua vida por Deus e pelos outros, eu queria dizer: Tu que pressentes um apelo interior, assumirás o risco de confiar no Evangelho?

Permanece na simplicidade e na alegria, a alegria do amor ao próximo. Deus ama-te como se fosses único, e conceder-te-á que vivas uma comunhão com ele. Aí reside uma das fontes da alegria.

No silêncio do teu coração, Cristo murmura: «Nunca te deixarei sozinho, enviar-te-ei o Espírito Santo. Ele permanecerá sempre contigo».

Então podemos rezar: Deus que nos amas, tu conheces as nossas fragilidades. Mas, pela presença do teu Espírito Santo, tu vens transfigurá-las, a ponto de mesmo as sombras poderem iluminar-se do interior.



Irmão Roger de Taizé, Lisboa, 29 de Dezembro de 2004