7.1.05

Cavaco e a regeneração do PSD... (*)


A recusa óbvia do Prof. Cavaco em se associar ao imbecil cartaz de campanha proposto pelos marketeiros do Dr. Lopes está a provocar as reações mais curiosas. Desde o texto do comissário Luis Delgado, ao editorial de Miguel Coutinho, ambos no DN, passando pelo editorial de José Manuel Fernandes no Público, e terminando pela divertidas posições de dois líderes distritais do PSD (quem?), Coimbra e Setubal, que já sonham com sanções partidárias a Cavaco. Isto para não falar dos que criticaram o eufemismo usado por Cavaco, a já célebre "perturbação da vida académica".

Começando pela última questão, sejamos claros, ressalta evidente que o Prof. Cavaco é uma pessoa vertical, leal e bem educada. Queriam que ele dissesse o quê ? Que mais explicitamente ainda dissesse que o Dr. Lopes é um inapto funcional e orgânico ? Fizeram-lhe uma pergunta, e ele delicada e polidamente respondeu. Ponto final. E como bem notou, em post abaixo, o Rodrigo Moita de Deus a resposta não é tão exótica quanto isso.

Quanto a questões substantivas é uma peninha ver cabeças inteligentes, como os editorialistas do Público e do DN, a debitarem disparates. Ao contrário do que escreve José Manuel Fernandes no Público, o problema não é PSD já não existir, muito pelo contrário. Ontem, de uma penada, o Prof. Cavaco deu um contributo inestimável não só para a credibilização do sistema político mas sobretudo para a regeneração e re-credibilização do PSD.

Inequivocamente, e sem eufemismos, e o que o Prof. Cavaco fez não foi mais do que recordar aos mais distraídos que o objectivo supremo de um partido, mormente o PSD, não é conquistar, ou manter, o poder.

O que o Prof. Cavaco fez tão pura e simplesmente recordar que um partido político não pode pensar e agir como um mero clube de futebol. Já Sá Carneiro, que muitos citam, mas que muito poucos imitam, dizia que antes do Partido estava o interesse do País. E é justamente o interesse supremo do país que está em causa. O Prof. Cavaco mais não fez do que por um travão numa lógica de lealdade e solidariedade orgânica proto-social-fascista típica de organizações totalitárias à lá PCP. Nem mais nem menos.

Do PSD tem que se esperar sempre, repito, sempre, as melhores soluções e as melhores ideias.

O pior que um militante responsável e coerente, ainda por cima com as responsabilidades do Prof. Cavaco, poderia fazer ao PSD seria permitir que este se transformasse numa espécie de Sport Lisboa e Benfica do sistema político, vivendo não à sombra dos triunfos actuais mas de glórias passadas.

A outra questão que veio à baila foi a inevitável questão presidencial sendo que implicitamente se alega que o Prof. Cavaco não poderia dizer que não, mesmo que tivesse razões para tal, porque precisará do apoio do PSD/aparelho para as Presidenciais. Uma absoluta falácia. Para começar o Prof. Cavaco não precisa do apoio do PSD/aparelho para rigorosamente nada. O grande drama do Prof. Cavaco sempre foram aliás os apoios, inconvenientes demasiadas vezes, provenientes dessas bandas, e depois se há aspecto perversamente positivo da guerrilha, cobardemente não assumida, movida desde há muito tempo pelas milícias do Dr. Lopes ao Prof. Cavaco é o facto de essa acção de guerrilha só reforçar objectivamente o ex Primeiro-Ministro como património, não do PSD mas do País, ao lado, e bem acima, de tricas partidárias. Quanto à campanha propriamente dita, e embora eu espere sinceramente que o PSD recupere mais rapidamente, alguém consegue imaginar maior regeneração do sistema político do que se ter uma campanha presidencial, potencialmente vencedora, a ser desenvolvida, do primeiro ao último dia, à margem do aparelho do PSD ? Eu não consigo, e por isso é que já em 2003, pois é, por aqui escrevia, que o melhor que podia acontecer ao Prof. Cavaco, que não ao certo PSD, era o Dr. Lopes ser ele também candidato presidencial...

Já quanto aos dois liliputeanos personagens que sugeriram sanções disciplinares (!) no âmbito do PSD ao Prof. Cavaco só uma notazinha - ninguém sabe quem são, nem nunca saberá. Valem, politicamente, ZERO.

Vivemos tempos interessantes sem dúvida. Há coisas que são simplesmente imparáveis, o Futuro regressa a partir de 20 de fevereiro.


(*) in Grande Loja do Quejo Limiano