19.7.05

COM UMA CEREJA NO TOPO

“Os jornalistas esporeavam a imaginação para achar adjectivos dignos da minha grandeza; fui o sublime Sr. Teodoro, cheguei a ser o celeste Teodoro; então, desvairada, a “ Gazeta das Locais “ chamou-me o extraceleste Sr Teodoro”
Eça de Queirós




Desde a entrevista "inicial" em que, de passagem, referiu que aceitara fazer parte do Governo "depois" de ter visto e aprovado o respectivo elenco que se percebeu ao que vinha.

Vinha fazer "pela vida", a sua já se vê, servindo, para o efeito, o PM e agregados de figurantes.

Agora, depois da entrevista ao DN - atingido o objectivo de se alçar - veio numa ladaínha previsível falar em manipulação das pérolas de espírito do seu largo entre-têmporas, que, como era de calcular, foram retiradas "do contexto", onde jaziam enroladas e mornas.

Hoje, em entrevista na 2, abriu mais o jogo: a "direita" está a preparar à vista de todos uma verdadeira golpada, que é a entronização por "plebiscito" do conhecido Cavaco Silva.

Explicado o pesadelo, como é que a "esquerda" esconjura uma tal barbaridade?

Só com a aparição redentora de um vulto muito largo, não só de têmporas, com um passado recheado de flutuações triunfais, um albatroz que, fendendo ares, tenha voado de Marcelo Caetano à Al Kaeda, talvez mesmo um tortulho rajado e fecundado pelo veneno das próprias inépcias...

Mas, ó deuses, ele há um ser tamanho?

Ele há.
O Teodoro.

No deserto reinante, em que a ausência de ética, de escrúpulos e de carácter deixaram de ser uma desvantagem, a sua argúcia manhosa vê, e bem, uma estrada possível.

No vazio "presidencial" do ps, enredado em demasiados negalhos, os queixos adiantados da sua ambição enviesada sentem, e bem, o bridão largo e a laje lisinha ao trote da ferradura.

E, depois, pensa o Teodoro:

foi da "direita" quase toda a vida, portanto, desse lado, muitos, muitíssimos votarão nele;
companheiro de estrada de Bin Laden, a extrema esquerda votará, quase toda, nele;
patrocinado pela família soares, o ps, e agregados, votará em peso nele;
fan número 1 da senhora condollezza, os atlantistas votarão nele de forma clara, e é natural que a CIA dê uma mão;
tendo lido várias vezes Xenofonte, a elite intelectual da pátria vai correr, despenteada, a votar nele;
uma vez explicada em pormenor, e nos Estados Unidos da América, a visionária revolução institucional que na sua mioleira preparou para a União Europeia, os adeptos desta vão votar nele, a rodos e aos gritos;
passando as férias em Viena, pela música, os muitos milhares de melómanos desta terra vão, orgulhosos, votar nele trauteando Mozart;
velhaco e sem espinha, os malandros cá da terra, que os há, votarão nele, numa convicta porção maciça;
belo como um centauro, de frente e de lado um papo de anjo, à sua chispa as mulheres lusas, e boa parte da comunidade gay, vão em cru desvario votar nele.

Tudo visto, o bom do Conde de Abranhos, ao pé dele, era um menino.

Assim, pensa o Teodoro, em vez do malfadado "plebiscito", ele tem para emprestar ao país nada mais nada menos que o seu vulto, untado de farófia e a servir com batido "misturinha 28 de Maio/25 de Abril."
Com uma cereja no topo.


crsdvale