9.7.05

D´ALTO ESPAIRECIDA


Vasco Pulido Valente, pegando numa deixa de António Barreto, em que este zurzia, e bem, a elite portuguesa, acrescenta (publico-8.7):

" O que passa em Portugal por elite não difere do resto da sociedade. Nesse sentido, representa bem o país (que naturalmente não "puxa" para lado nenhum), com a sua cultura de miséria, de mentira e de parasitismo."

Remata, depois, com um verdadeiro molinete:

"Quando se escreve sobre a elite portuguesa em 2005 é prudente lembrar que ela paga para ler o Expresso e, se calhar, o lê com gosto. Esse pequeno acto, na aparência inofensivo, exprime e resume a sua inutilidade prática. Para quê falar dela?"

Sucede, como é bom de ver, que lá haver uma elite nacional,até pela natureza das coisas, lá isso ele há.

E, sucede também, que, tanto VPV como Barreto, nela ocupam um lugar muito visível.

São, aliás, um com o ar de senador do império romano, o outro com o de mocetão sadio lá da aldeia, inteligentes, cultos, bravos, escrevem com primor e, daí o sal, têm costela satânica.

Assim, ao vê-los devastar, com uma nuvem de melancolia e uma ponta de gulodice, a paisagem portuguesa, vem à ideia a rapaziada dos Vencidos da Vida, um Eça ou um Ramalho, sendo que estes, os antigos, eram à uma mais nuancés, à outra mais elegantes.

Mas, o pior para eles (e para nós), é que não têm hoje, como os antigos tiveram, um Fialho de Almeida que, certamente pelo despeito de a eles não pertencer, assim via os "Vencidos" do seu tempo, dando-lhes, p. e.,esta deliciosa gustação do acicate:

"Todos sabem a proveniência dos Vencidos da Vida.

Foi uma destas tentativas de cenáculo espiritual, d´escola de pórtico feita para criar em Lisboa uma opinião superior e d´alto espairecida, de sorte que dada qualquer questão transcendentiva, todos tivessem os olhos no infabilissimo tribunal.

Para levar a cabo este propósito, reuniram-se a uma mesa de jantar os espíritos núcleos da quadrilha, de casaca, brilhantes falsos, unhas em ovo e alguns grandes paradoxos na moleira.

Os primeiros tiroteios não foram fecundos, porque os beaux esprits congraçados para a conquista filosófica de Lisboa, frequentes vezez omitiam nas práticas a serenidade de julgadores impassíveis, pegando de se nicar com biscas de filhotes"





crsDvale

1 Comments:

At 7:48 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Mas falta dar-lhe onde lhe dói mais...Já ficou para aí uma dica...ou comerão todos da mesma gamela?

 

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