30.7.05

NÃO PODE

"Quando da celsa gávea os marinheiros
enxergaram terra alta pela proa"
luis de camões
lusiadas-cantoIV




À medida que vamos ouvindo os diagnósticos, da variedade dos pensadores lusos, sobre as nossas crises, a de sempre e a de agora, a acuidade das leituras e das receitas parece notável e impressiona a aparente simplicidade ou, ao menos, a suposta exequibilidade das soluções que tombam como chuva em terra seca.

E, no entanto, os nós dos problemas já lá estavam e, mais apertados, subsistem.

Com a excepção da década 1985/95, em que Portugal não foi governado à portuguesa, e os fundos comunitários deram lastro à nau, esta não parece capaz de navegar...

Logo depois, com os tais fundos comunitários, mas governado à portuguesa, adornou e adornada está.

Como é costume.

Porque, e este é o pano de fundo de toda esta história, a melhor explicação para o desenvolvimento e modernidade vai buscar a raíz a um conjunto de factores sócio-culturais, às atitudes, aos comportamentos, à maneira de estar e ser - um ethos - dos homens e das mulheres duma sociedade.

Ao pensar, com alain peyreffite, que as sociedades que singram são aquelas em que esse conjunto de mentalidades e comportamentos se traduzem, com naturalidade, em abertura à inovação, em troca de saberes, em assunção do risco, em tolerância, em responsabilidade, em prospectiva e em criatividade, em suma num ethos de confiança competitiva, alguém, com razoabilidade, pode espantar-se com as crises de Portugal?

Não pode.



LourençoBravo



(leitura vivamente recomendada:
" O milagre em Economia"-Alain Peyreffite
- universidade de Aveiro/Gradiva, 1995)