AS PALAVRAS
São como cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
brventana
1 Comments:
Isto é muito bonito. E vem muito a talhe de foice num tempo em que as palavras, mal tratadas e malbaratadas, andam aí, arremessadas como pedras.
margarida ribeiro
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