27.10.05

AS PALAVRAS

São como cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?



Eugénio de Andrade




brventana

1 Comments:

At 12:56 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Isto é muito bonito. E vem muito a talhe de foice num tempo em que as palavras, mal tratadas e malbaratadas, andam aí, arremessadas como pedras.

margarida ribeiro

 

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