POR QUE CARGA DE ÁGUA
O prof Marcelo Rebelo de Sousa confessou surpresa diante da hipótese, em caso de segunda volta nas presidenciais, de eleitores comunistas e bloquistas votarem em Cavaco Silva.
Teorizou, então, que tal se ficaria a dever à ligação demasiado estreita da candidatura de Mário Soares ao PS.
A explicação é curta, e não apanha a natureza da coisa.
Desde logo, por esse caminho não se decifra porque é que aquela estranha tropia inclui (também) eleitores do PS e, por outro lado, despreza a circunstância, historicamente verificável, de em 1987 e, depois em 1991, aqueles eleitores terem desassombradamente feito a mesma escolha.
O que parece ter mais alicerce, é a população, sobretudo no que respeita a eleições presidenciais, não se ater tanto à dicotomia esquerda/direita ou a sorver caldinhos de orientação servidos por uma boa parte da comunicação social que, de bússola a tiracolo, se foi esmoendo, rajada pelas próprias inépcias e pela réplica bolorenta de fábulas e embustes.
Nestas ocasiões, o eleitorado procura mais os traços de carácter e, de forma mais ou menos difusa, o que dimana, o que representa uma ou outra personalidade. Devassa, pelo instinto ou pela razão, onde está a afoiteza, o ânimo, a honorabilidade, a gravitas, a competência, e quem parece protagonizar uma ideia de progresso, de modernidade, de bem-estar e de segurança.
Se porventura encontra, ainda por cima, carisma, a atracção ganha muita força.
Ora, os sinais, muitos e antigos, mostram que grande parte da população portuguesa sente, percebe, e quer sentir e perceber, Cavaco Silva como o melhor candidato possível, também para Presidente da Republica.
(Aliás, já havia insinuado isso em 1996, quando lhe deu, no zénite da orgia anticavaquista, 46% dos votos)
Além do mais, para desesperos e angústias várias, o homem é um social-democrata de reais provas dadas, o que nesta terra, e em muitas outras de resto, não é particularmente malvisto.
Finalmente, teve a sorte de lhe caber em confronto um absurdo capricho de estultícia e presunção, que o povo, e aí de maneira pouco difusa, não costuma aturar.
Ao fim e ao cabo, é caso para perguntar: por que carga de água é que um cidadão, por ser habitual eleitor comunista, bloquista, ou da “esquerda” em geral, havia, ipso facto, de ser parvo?
lourençobravo
2 Comments:
Pois...
Mas por acaso preferia Cavaco Silva como PM em lugar de PR.
Bela pergunta com efeito. Por que carga de água!?
jm
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