30.12.05

A RODA DA FORTUNA

"Quem sabe se a roda da fortuna, que já há tanto tempo, em voltas sucessivas, parece insistir em girar contra nós, quem sabe, digo, se neste momento quererá voltar em sentido contrário"
O.M.


"Para mim a crise, sob a qual nós vergamos, tem de ser encarada sob três aspectos.

O primeiro é o desequilíbrio orçamental; o segundo é a circulação fiduciária; e o terceiro é o desequilíbrio capitalista ou económico, como se quiser chamar, quero dizer, a diferença entre o ingresso e as saídas, quer de mercadorias, quer de capitais.

Ora, invertendo a ordem por que enumerei estes três elementos, começarei pelo último.

Não cansarei a câmara reproduzindo algarismos que todos conhecem, e fazendo considerações que hoje, felizmente, estão no espírito de todos e que é deplorável que o não estivessem há muito tempo; porque o facto é que, desde longos anos, nós vivemos uma vida completamente artificial, abandonando as fontes da riqueza natural do pais.

Nós chegámos a este estado, verdadeiramente anormal, de consumir exclusivamente produtos estrangeiros e de trabalhar exclusivamente com capitais estrangeiros; de nos dessangrarmos anualmente com o serviço desses capitais e com o preço desses produtos!

Assim vivíamos efectivamente e assim vivemos durante largos anos, se o espaço de meio século, pouco mais ou menos, se pode chamar largos anos; mas vivemos como?

Vivemos exagerando a soma da dívida pública até às proporções verdadeiramente esmagadoras em que hoje se encontra.
(...)
O equilíbrio orçamental não se obterá senão à custa de uni sacrifício feroz, permita-se-me a expressão, que tem ele abranger todos os funcionários, credores do estado, proprietários e industriais.

Só assim é que o movimento pôde ser nacional e o sacrifício corresponder ás exigências da situação e do país.

Este sacrifício tem de abranger empregados civis e militares, há-de abranger todos, absolutamente todos em igualdade de condições. O governo não veia aqui para estabelecer guerra de classes, veio, em nome da salvação pública, para pedir a todas as classes do país um concurso de esforços enérgicos para ver se conseguimos salvar a nossa terra da situação deplorável a que a levaram."


Discurso de Oliveira Martins em 20 de Janeiro de 1892.
(Ministro das Finanças no governo presidido por Dias Ferreira, apresentou o programa financeiro do novo governo)
(Portal da História
Manuel Amaral
2000-2005)


bvtana

2 Comments:

At 1:47 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Isto é notável. Mas, é sobretudo assustador...
Um discurso de 1892 que podia ser feito hoje.

cv

 
At 1:48 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Calma, que a roda da fortuna pode virar...

 

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