Só faltava esta...
Diz João Miranda no Blasfémias, a propósito de um editorial de Nuno Pacheco, que os candidatos da sociedade civil(?) "não podem ser julgados pelas suas profissões e pelos seus slogans", acrescentando, definitivo:"Afinal, se Manuel João Vieira é músico, Manuel Alegre é letrista, se alguns candidatos da sociedade civil são advogados, Mário Soares também já foi, se Manuela Magno é professora de música, Cavaco Silva e Francisco Louçã são professores de economia..." Pois são! Sucede que nem Manuel Alegre se candidata como "letrista" (coisa que ele, aliás, não é), nem Mário Soares se candidata como advogado, nem Cavaco Silva ou Francisco Louçã se candidatam como professores. Por uma razão simples: as suas candidaturas são fruto de uma decisão política, inserem-se numa actividade política e têm como objectivo um cargo eminentemente político. É natural, portanto, que sejam julgados de acordo com critérios políticos. O problema dos candidatos da sociedade civil(?) é que a única coisa que os distingue é o facto de se candidatarem. Se não devem ser julgados pelas suas profissões e pelos seus slogans, por que critérios devem, então, ser julgados? Pela actividade política que não têm? Pelo passado que não os distingue? Pelas promessas que guardam na manga? Pela boa vontade que os anima? Não se percebe! Como não se percebe que alguém possa afirmar que, "no que diz respeito a profissões", os "candidatos dos partidos" não são melhores do que os candidatos da sociedade civil - e ache que isso pode ser usado como argumento seja do que for. É assim tão difícil compreender que uma eleição presidencial é uma eleição de natureza política? E que os candidatos se propõem alcançar a Presidência da República - e não propriamente um curso de formação profissional? Para além de que esta distinção entre "candidatos dos partidos" e "candidatos da sociedade civil" deixa bastante a desejar. Cavaco Silva é um "candidato dos partidos"? Duvido! Não sei mesmo se ele não é, antes, um candidato apesar dos partidos.
Uma pequena excepção: Garcia Pereira, que não é citado no texto, é o único "candidato da sociedade civil" que é conhecido pela actividade política que tem.
ccs
5 Comments:
Por " É assim tão difícil compreender que uma eleição presidencial é uma eleição de natureza política? " ccs
é que "os candidatos da sociedade civil(?) "não podem ser julgados apenas pelas suas profissões e pelos seus slogans " JM
Afinal onde é que está o erro do Joao Miranda ?
agradecia resposta
Nota : não li o artigo do Nuno Pacheco no público
Os erros de João Miranda:
1. Não perceber que os candidatos à PR devem ser, por força das circunstâncias, políticos.
2. Não perceber que os "candidatos da sociedade civil" com excepção de Garcia Pereira (que aliás não é um candidato da sociedade civil)só podem ser julgados por aquilo que se conhece deles: as profissões e os slogans - ficando por saber se isso equivale a qualquer tipo de julgamento.
3. Não perceber que comparar as profissões dos "candidatos políticos" com as dos "candidatos da sociedade civil", como ele faz, é uma comparação sem sentido.
4. Não perceber que a distinção entre uns e outros é um equívoco um pouco primário.
Esclarecido?
Sucintamente:
1: Está a sugerir que o cargo de presidência de república (a revelia do que actualmente se pratica) se restrinja unicamente a indivíduos com carreira politica?
O pensamento politico não se restringe aos políticos.
[Que o cargo de PR é, por iminência, politico todos sabemos. Não é isso que está em causa.]
- O post do JM apresenta uma crítica à discriminação que o Nuno Pacheco faz entre os candidatos (que, pelo que dá a entender, a CCS apoia )
2: Aquilo que se conhece é aquilo que é difundido:
E os meios de transmissão dessa informação são, por excelência, os órgãos de CS. No qual o “Publico” se inclui.
O que fizeram os diversos órgãos de CS para conhecer as ideias politicas dos diferentes candidatos da "sociedade civil"?
Os candidatos participaram nos debates , foram entrevistados ? Alguém conhecia sequer o nome de tais candidatos?
Não. Nada. (e os seus projectos, por muito incipientes que sejam, existem)
-O post do JM chama atenção precisamente à forma como a CS (neste caso o artigo do Nuno Pacheco) trata os diferentes candidatos.
3:Exacatmente.
-O post do JM utiliza essas comparações para chegar a essa mesma conclusão. Os candidatos não devem ser avaliados apenas pela sua profissão. Coisa que Nuno Pacheco parece ter feito, no “Publico”, em relação a determinados candidatados.
4:- Sincamente não percebi qual o seu objectivo com este ponto.
cumprimentos
João Miranda passou-se...
Não é preciso tanto, mas talvez não lhe fizesse mal estudar, entre outras coisas, Direito Constitucional!
Um dia, sentado numa mesa de café e com a conversa acessa à volta do voto, deparo-me com um amigo anarquista que, pura e simplesmente, não vota. Comecei a indagar, a questionar, a tentar perceber o que leva um anarquista a não votar, porquê, porquê e porquê. A resposta foi simples e arrumou a conversa: "Para perceberes isso é preciso leres uns livros!".
Ok, preciso ler uns livros, preciso de um entendimento preciso da história, de filosofia, de democracia, de política contemporânea e não só, para valorizar o acto de não votar e entendê-lo como uma posição válida, um contraponto necessário à democracia que julgava defender atè aquela fatídica conversa de café.
A questão que ponho é esta tendência subversiva da elitilização da democracia, com discriminação até da justiça. Todos os cidadãos que se achem com capacidades para exercer o cargo de PR, que tenham legalidade para tal, devem ter um tratamento igual. O Palhaço Jimbras e Cavaco Silva devem ter os mesmos direitos e, apesar de tudo - e eu sei que custoso admití-lo - os mesmo carácter de importância aos olhos da comunicação social, que se pretende isenta. O povo é soberano, e se quer o palhaço Jimbras para PR ao invés de alguém com comprovada experiência a nível político, venha ele. O seu a seu dono. É a realidade difícil e bonita do nosso sistema democrático.
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